A SAD do Sporting Clube de Portugal (SCP) considera que a saúde e estabilidade financeira da sociedade estão em causa devido à atual turbulência do clube, que poderá pôr em causa a próxima emissão de obrigações.
Em comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a SAD do SCP lembra que “está em curso uma nova emissão obrigacionista, no valor de 30 milhões de euros” que deverá acontecer no próximo mês e “que é fundamental para o cumprimento de compromissos financeiros da Sporting SAD” e “ainda o financiamento de operações de tesouraria da SAD”.
Um empréstimo obrigacionista é uma forma de as empresas se financiarem. Neste caso, quem investir em obrigações está a emprestar dinheiro ao Sporting em troca de juros que irão ser pagos com uma certa periodicidade até ao final do contrato, quando a SAD leonina devolverá o dinheiro investido. Esta usará o montante para fazer face às suas despesas.
De seguida, o comunicado aponta que “as recentes tomadas de posição públicas por terceiros vêm prejudicar gravemente a concretização da nova oferta obrigacionista” acrescentando que uma “possível Assembleia de Acionistas da Sporting SAD ou uma Assembleia Geral de sócios do SCP, quer para destituição dos seus órgãos sociais, quer para eleição de novos órgãos sociais, impediria a concretização atempada da referida nova oferta obrigacionista”. A acontecer, colocaria em causa “os fins da mesma, concretamente o reembolso da atual emissão, e, consequentemente, a estabilidade financeira da Sporting SAD”.
Divisão O Sporting está dividido desde quinta-feira passada, depois de, na sequência da derrota com o Atlético de Madrid o presidente ter criticado os jogadores na rede social Facebook.
No dia a seguir os jogadores uniram-se em protesto contra o sucedido, o que levou Bruno de Carvalho a suspender os atletas e a anunciar a instauração de processos disciplinares aos futebolistas.
No domingo, frente ao Paços de Ferreira, os jogadores seriam aplaudidos e o presidente assobiado, e na manhã do dia seguinte o presidente da Mesa da Assembleia Geral do Sporting, pediu a demissão de Bruno de Carvalho. Jaime Marta Soares afirmou mesmo que, se este não o fizer, a Assembleia Geral poderá destituí-lo.
Em resposta, Bruno de Carvalho, antes de se despedir do Facebook, anunciou que ele próprio vai convocar uma Assembleia Geral para que os sócios se pronunciem sobre a continuidade de cada um dos órgãos sociais.
De acordo com o comunicado de ontem da SAD do SCP, “tais declarações públicas foram, por isso, extemporâneas e lesivas, até atendendo aos resultados financeiros positivos no Clube e na Sporting SAD” e que “neste termos não existem quaisquer motivos para as declarações e pretensões formuladas”.
Influência negativa A SAD do SCP acrescenta ainda que a polémica recente “tem igualmente influência negativa na valorização da sociedade desportiva, pelos efeitos negativos no valor das ações da mesma”. Na segunda-feira, a Holdimo, maior acionista da SAD do Sporting, detentora de cerca de 30% do capital, solicitou uma AG para “debater e resolver os problemas internos”, receando o “potencial prejuízo para os ativos da sociedade”.
Ao i, o vice-presidente da Holdimo garante que um eventual processo contra Bruno de Carvalho está fora de causa. “Nós não tiramos conclusões antes de fazer reuniões. Não é esse o nosso propósito. Não pretendemos pessoalizar o problema, não é essa a nossa missão”, diz Nuno Correia de Oliveira.
O também administrador da SAD do Sporting acrescenta que a “nossa missão é encontrar soluções e que são urgentes. É pura e simplesmente com esse propósito. O que está dito é precisamente aquilo que nos move. Não há entrelinhas nem há motivações escondidas”.
A Holdimo, presidida por Álvaro Sobrinho, no comunicado da noite de segunda-feira considerava que “o debate público sobre questões internas tem contribuído para uma exposição” que é “absolutamente dispensável e atentatória da melhor tradição da marca Sporting”.
Além disso, as “relações humanas têm momentos de tensão que temos de saber gerir com a maior ponderação, discrição e bom senso. Os direitos económicos e desportivos fazem parte do ativo da Sporting SAD, é urgente encontrar soluções que nos recoloquem no caminho da valorização destes activos”.
A Holdimo acrescentava ainda que se tem abstido “de participar no debate público de assuntos internos, mesmo não estando de acordo com a suspensão de jogadores da Sporting SAD”.
Urgência Ao i, Nuno Correia de Oliveira explica que a urgência da solicitação da AG está em “encontrar soluções alternativas e debater a resolução do conflito que levou à instalação de processos disciplinares à equipa de futebol”.
Isto porque a “situação não abona nem em função dos objetivos desportivos, nem a favor dos objetivos económicos da Sporting SAD”. O administrador da SAD leonina lembra também que “um processo disciplinar tem trâmites e tem prazos e tudo isso leva demasiado tempo e prejudica a disponibilidade destes ativos”.
Mais: “os processos disciplinares desgastam do ponto de vista emocional, do ponto de vista anímico e as equipas são isso, são feitas de pessoas”.
De acordo com o comunicado da SAD do SCP à CMVM, a administração leonina “irá solicitar ao presidente da Mesa da Assembleia Geral” a convocatória de uma assembleia geral de acionistas com vista à deliberação “sobre a emissão da referida nova oferta obrigacionista”.
A sociedade vai pedir ainda a Jaime Marta Soares que convoque uma reunião geral de obrigacionistas “a fim de deliberar sobre a prorrogação do prazo de reembolso final desta emissão, para nunca antes de novembro de 2018”.
Sobre a questão do empréstimo obrigacionista, o vice-presidente da Holdimo recorda ao i que “está publicado no relatório e contas a maturidade do empréstimo obrigacionista” e que “era conhecido que teríamos de fazer um novo empréstimo obrigacionista para honrar este que vence agora em maio”.
Na nota aos mercados a SAD do SCP salienta que esta nova emissão decorre de uma “nova reestruturação financeira”, negociada por Bruno de Carvalho, “em condições favoráveis para a Sporting SAD, ajustadas à estratégia de investimento e de valorização de ativos que tem sido seguida pela atual administração”.