Homy. É este o nome do projeto que junta as duas advogadas. Margarida Bragança e Margarida Ferreira Marques são as responsáveis do blogue homónimo, que nasceu de uma dificuldade que ambas partilharam: encontrar objetos de decoração feitos em Portugal que fugissem ao que vemos em todas as casas.
A ideia surgiu em 2012 apenas pela mão de Margarida Bragança, mas por motivos pessoais e profissionais o projeto esteve uns tempos na «prateleira». Agora, ambas querem dar um novo impulso ao Homy e avançar com o plano traçado há quase seis anos. O primeiro grande passo é já este fim de semana, no Mercado de Cascais – já lá iremos.
Tudo começou quando Margarida B. montou a sua primeira casa, depois de casar, em GGG. Nessa altura, percebeu que não conseguia encontrar peças únicas de design nacional que a fizessem sentir-se realmente em casa. Isto foi, aos olhos da mesma, uma tarefa complicada. «Confesso que sou um bocadinho obcecada em encontrar as coisas certas e em não me conformar muito com o mais óbvio. Volta e meia descobria um design nacional novo, uma loja diferente, às vezes viajava por países e encontrava determinadas lojas e artesãos, peças antigas com muita história… Isso deu-me a ideia de criar um blogue que ajudasse a construir uma ponte entre estas dificuldades e as pessoas que sentiam o mesmo que eu», conta ao b,i.
Detetado o problema, rapidamente pensou numa solução. que surgiu em forma de blogue – inicialmente criado apenas por lazer, mas que depressa se tornou num projeto com pernas para andar. No final do ano passado, o projeto ganhou novo fôlego e está novamente a arrancar, ainda que «aos poucos e poucos», revelam as duas responsáveis.
Uma plataforma para ‘cortar caminho’
As ‘Margaridas’ não são designers de interiores, esclarecem as próprias. Não se focam em criar os conteúdos técnicos sobre decoração nem sobre design. A única função das duas é apenas a de ajudar a construir uma ponte e apresentar a quem procura este tipo de produtos as várias escolhas que têm disponíveis no mercado. «Há um gap gigante entre, por exemplo, uma revista de decoração e a realidade. Há grandes superfícies de venda de imóveis mas depois há um mundo de coisas que não são valorizadas e que têm uma qualidade extraordinária e que valoriza, de facto, as peças que as pessoas podem ter nas suas casas», explica Margarida Bragança.
A ideia do blogue surge na verificação de todas essas dificuldades. Com o passar do tempo, Margarida B. e Margarida F.M criaram conteúdos que refletiam tudo isto. Mas há mais. Além de ideias inovadoras, o blogue dá também uma ajuda que é fundamental a toda a gente. «Qualquer pessoa que se interesse por decoração tem um trabalho de pesquisa e então o objetivo do blogue é também um bocadinho o de cortar caminho e dizer: ‘Olha, elas descobriram estas marcas, estes designers, estas peças que são tão giras…no blogue fica giro, se calhar vou tentar fazer em casa…’», revelam as advogadas ao b,i.
O que é nacional é bom
Não é o único foco deste projeto, mas é talvez o principal. As descobertas que ambas têm feito dos produtos feitos em Portugal ao longo dos anos neste campo são muitas e, tanto Margarida B. como Margarida F.M, sentiram a necessidade de expor os trabalhos de alguns designers nacionais, uma vez que estes têm mais dificuldade em fazer chegar o seu trabalho aos outros.
«Gostamos muito das descobertas que temos feito ao nível do design nacional e, pelos contactos que temos tido com designers e algumas marcas mais pequenas, temos visto que há, de facto, uma grande necessidade de divulgação dos seus trabalhos.», revelam.
Sobre se o design nacional é valorizado, a resposta está-lhes na ponta da língua. Ambas acreditam que o design português é reconhecido, mas afirmam que o grande problema não passa por esta questão. A forma como as marcas e as peças chegam às pessoas é que é o verdadeiro entrave. «Um designer independente não tem a mesma capacidade de se expressar e de se fazer apresentar como uma grande marca tem. Os independentes não conseguem fazer tudo, não se conseguem multiplicar no sentido de fazer o seu próprio trabalho, divulgá-lo, e fazê-lo chegar às pessoas. Portanto, com a ideia do blogue nós ganhamos isso mesmo: fazemos a tal ponte entre os designers e o público em geral», conta Margarida Ferreira Marques.
Talvez pela ideia que as pessoas têm de que os designers nacionais têm peças «ridiculamente» caras, o design português acaba, de certa forma, por sair prejudicado, nomeadamente a comercialização dessas peças. Ambas desmistificam este mistério e garantem que «há claramente um meio-termo entre o design caríssimo e as peças que são verdadeiramente acessíveis». «O design português é bastante valorizado no sentido de reconhecimento, mas não no sentido de comercialização. É aí que eu acho que está a falha e é isso que nós tentamos combater com a Homy.», contam, sublinhando que são essas as peças que vão estar no seu primeiro evento: o Homy Pop Market.
Este é um evento único e exclusivamente dedicado à decoração e ao design português, que decorre hoje e amanhã no Mercado de Cascais. O espaço no mercado junta um Atelier onde vão decorrer workshops em diversas temáticas, desde a cerâmica à decoração de abajures. Além disso, haverá também uma Pop Up Store com peças de mais de 30 marcas nacionais.
«O blogue já existe há muito tempo, não é um dos blogues da moda deste momento nem nada que se pareça e, portanto, acaba por ser um tiro no escuro. Mas a recetividade foi realmente extraordinária. Não estávamos a contar, de todo, com tanta recetividade das marcas. Este foi o nosso grande primeiro desafio e agora cabe-nos a nós corresponder às expectativas», dizem as duas com um sorriso expectante na cara.