Nem com lupa se encontra no Brasil alguém que seja capaz de dizer: o governo de Michel Temer é “ótimo”. A julgar pelos resultados da sondagem do Instituto Ipsos, divulgados este fim de semana, o atual presidente do Brasil é o mais impopular do país desde o fim da ditadura.
O chefe de Estado brasileiro, que herdou o poder depois do impeachment de Dilma Rousseff, só consegue 2% de pessoas que consideram o seu trabalho como “bom” e 5% que avaliam o seu desempenho como “regular, mais para a positiva”.
Para além disso é um mar de opiniões negativas que poderiam fazer o atual presidente reconsiderar a ideia de se candidatar à presidência: 61% dos brasileiros da sondagem considera o seu governo como “péssimo”, 22% classifica-o como “ruim” e 9% como “regular a pender para o negativo”.
Ainda recentemente, o presidente justificou a sua impopularidade como resultado das políticas que pôs em marcha, que não agradam, mas são necessárias e nem se coibiu à comparação com Jesus Cristo: “Eu fiz, aproveitando a impopularidade. Muitas vezes o que o povo quer leva à crucificação de Cristo, que depois foi santificado”.
Se chegar mesmo à conclusão que avança – apesar de Henrique Meirelles, que ele estava a pensar levar consigo como candidato a vice-presidente, já ter deixado o Ministério da Fazenda (Finanças) para se lançar sozinho na corrida à presidência –, Temer conta inverter a sua imagem extremamente negativa no segundo semestre do ano com investimentos fortes em publicidade e mensagens centradas nos números da economia e nas medidas de segurança pública (sobretudo, a intervenção federal no Rio de Janeiro).
Algo em que poucos acreditam tendo em conta o grau de impopularidade. Em 2015, antes do começo do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, as sondagens davam-lhe 9% de opiniões positivas, o que permitiu a Temer mostrar, pela primeira vez em termos públicos, que estava aberto a fazer qualquer coisa para deixar cair a chefe de Estado e agarrar ele o leme. “Ninguém vai resistir três anos e meio com esse índice baixo”, disse então, acrescentando: “Se continuar assim, com 7%, 8% de popularidade, de facto, fica difícil”. Três anos depois, eis Temer com níveis ainda mais baixos que a sua antecessora e a sonhar com mais quatro anos no poder, contrariando a sua ideia.
Lula continua a ser o mais popular Entretanto, noutra sondagem, esta do Instituto Datafolha, divulgada ontem, o ex-presidente do Brasil, mesmo preso, continua a liderar destacado a corrida presidencial, com 31% das intenções de voto. A seguir aparece Jair Bolsonaro (15%), Marina Silva (10%), Joaquim Barbosa (8%), Geraldo Alckmin (6%) e Ciro Gomes (5%). No cenário da segunda volta, Lula ganharia a qualquer adversário: 48%-31% a Bolsonaro, 48% a 27% a Alckmin e 46%-32% a Marina.
Sinal de que o país continua dividido ao meio em relação a Lula e à sua prisão, a sondagem do Ipsos dá 50% que é a favor, 46% contra e o resto não sabe/não responde. E se 57% acha que Lula é culpado (contra 32% que o considera inocente), 51% é da opinião que o ex-chefe de Estado não é mais corrupto que os outros políticos (44% acha que sim). Noutro dado curioso, 66% dos inquiridos acham que agora que Lula foi condenado, os outros políticos vão tentar acabar com a Operação Lava Jato.