Qual é a estratégia dos Estados Unidos para a Síria? O que pretende a administração de Donald Trump? Retirar as tropas do terreno o quanto antes, como disse há algumas semanas o presidente num tweet? Ou fazer escalar um conflito onde várias potências mundiais e regionais continuam a jogar uma perigosa partida de xadrez?
John McCain, senador republicano, ex-candidato à presidência da República, disse: “Para ter sucesso a longo prazo precisamos de uma estratégia consistente para a Síria e toda a região”. Algo que, aparentemente, o governo dos EUA não parece ter. “Ataques aéreos desligados de uma estratégia mais ampla podem ser necessários, mas sozinhos não alcançarão os objetivos dos EUA no Médio Oriente”, acrescentou o senador, citado pela Reuters.
A mesma agência refere que embora o secretário da Defesa, James Mattis, e outros membros de topo da administração norte-americana tenham conseguido convencer o presidente da necessidade de contenção nos ataques, dado o risco de fazer escalar o conflito ainda mais, Washington continua sem uma estratégia clara para um conflito atualmente controlado por russos, iranianos e turcos.
“Missão cumprida”, a frase dita por Trump em relação aos ataques com mísseis contra três alvos sírio – um laboratório de produção e teste de armas químicas perto de Damasco; instalações de produção de gás sarin a ocidente de Homs; e um posto de comando perto do laboratório – trouxe à memória a mesma frase usada pelo então presidente dos EUA, George W. Bush, em 2003, sobre a guerra no Iraque.
Nesse 1 de maio de há 15 anos, a bordo do USS Abraham Lincoln, o chefe de Estado fazia um discurso onde sublinhava que os principais combates da guerra do Iraque haviam ficado para trás. Tendo em conta que a maioria das baixas civis e militares se deram depois desse discurso, o eco que trazem até ao presente juntam muitas sombras ao tom positivo pretendido.
Além de que esta não é a primeira vez que Trump dá ordem para atacar com mísseis alvos do regime sírio. Em 2017, apenas três meses depois de assumir o poder, o chefe de Estado autorizou um ataque com 59 mísseis Tomahawk contra a base aérea de Shayrat, na província de Idlib.
Nessa altura, tal como agora, a Casa Branca queria transmitir a mensagem de que os EUA não tolerariam o uso de armas químicas pelo regime sírio. A ser certo que Damasco voltou a recorrer ao arsenal químico que ainda lhe resta – a ordem para os mísseis serem disparados aconteceram antes dos inspetores da Organização para a Proibição das Armas Químicas chegarem à cidade de Duma, onde terá acontecido o ataque –, o governo de Bashar al-Assad não parece ter receio das ameaças dos EUA e dos seus aliados (França e Reino Unido também participaram nesta retaliação concertada e o presidente francês, Emmanuel Macron, também estabelecera uma linha limite para Assad em 2017).
“Claramente o regime de Assad não percebeu a mensagem do ano passado”, afirmou Mattis. Para o chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas norte-americanas, o general Joseph Dunford, a mensagem da madrugada de sábado (cirúrgica e sem baixas colaterais) é bem diferente da enviada pelo Pentágono há um ano. O de 2017 foi um ataque unilateral contra um alvo, este foi um ataque coordenado com dois países aliados, com 105 mísseis disparados contra múltiplos alvos e visando debilitar a capacidade de produção armas químicas do regime sírio.
Se a mensagem chegou ou não a Assad parece um pouco irrelevante, tendo em conta que a finalidade do ataque parece ser mais uma mensagem para a opinião pública, de que as potências ocidentais estão a fazer alguma coisa, além de deixarem que russos e iranianos dominem a situação e controlem o regime de Damasco. Não fosse assim e Moscovo não teria sido avisada antecipadamente de que o ataque iria acontecer e que corredores aéreos seriam usados por aviões e mísseis.