O teatro é das mais antigas formas de arte. Já na Grécia Antiga constituía uma distração e um modo de formação do público. Muitas são as peças de teatro que retratam os grandes temas da humanidade – a morte, a traição, a vida, as peripécias do dia a dia, o amor, a amizade, a relação entre o homem e os deuses, a criação do mundo, os mitos fundadores da nossa civilização.
E é através do teatro que revivemos certos sentimentos e nos identificamos ou contrastamos com determinadas personagens, porque despertam em nós repulsa, pena, compaixão, carinho… Até porque, de vez em quando, concordamos com Ricardo Reis, quando diz: «vivo uma vida / Que não quero nem amo». E são estes sentimentos que, por vezes, levam à catarse, que levam o espectador a «expurgar» os seus sentimentos, através dos sentimentos e ações das personagens.
O teatro é, portanto, a imitação da vida; é a própria vida que desfila perante os nossos olhos e nos leva a questioná-la e a questionar o mundo e as relações com os outros, na complicada teia de relações sociais, na interação que estabelecemos com os demais. O teatro é, pois, o «grande palco do mundo», o palco onde desfilam todas as emoções, todos os sentimentos, tudo aquilo que nos define enquanto seres humanos. Como escreveu Shakespeare, «todos os homens e mulheres não passam de meros atores. Entram e saem de cena, e cada um, no seu tempo, representa diversos papéis».
Há, no entanto, quem não goste de teatro, assim como há quem não goste de ópera, de pintura ou de qualquer outra forma de arte. Cada um tem a sua sensibilidade, os seus gostos, as suas preferências. Para mim, porém, o teatro é uma forma de arte sublime. É especial porque os atores estão à nossa frente a representar para nós, o público que assiste. E esta particularidade é, em minha opinião, um privilégio sem comparação noutras formas de arte – um livro é escrito para quem quiser lê-lo, um quadro é pintado para quem quiser observá-lo, um filme é produzido para quem quiser vê-lo, um disco é gravado para quem quiser escutá-lo, em qualquer momento, em qualquer lugar. Mas um concerto ao vivo, uma peça de teatro, um bailado, uma ópera ou uma performance são preparados especialmente para quem está ali a assistir, naquele exato momento, naquela sala, naquela comunhão com os artistas e com os outros espectadores. É um momento único, irrepetível, inigualável.
Em qualquer um destes espetáculos há ainda um elemento fundamental: o silêncio. Como escreveu Medeiros Ferreira: «o silêncio também se fala e se faz ouvir». São os silêncios, as palavras, os movimentos, a quietude, que tornam estes espetáculos e, particularmente, o teatro tão especial. Também Clarice Lispector o diz, ao afirmar que «O propósito do teatro é fazer o gesto recuperar o seu sentido, a palavra, o seu tom insubstituível, permitir que o silêncio, como na boa música, seja também ouvido».
Muitos são os artistas que conquistam a fama, mas, infelizmente, são alvo também de inveja – não tanto pelo que são, mas, antes, pela fama que conquistaram e de que outros gostariam de desfrutar.
Maria Eugénia Leitão
Escrito em parceria com o blogue da Letrário, Translation Services