Barbara Bush, mulher de um presidente dos EUA e mãe de outro, morreu na madrugada de ontem em casa em Houston, Texas. Tinha 92 anos e personificava a consideração que a família vem antes da carreira ou da política.
A proeminente matriarca do clã Bush anunciara domingo que tinha optado por abdicar de tratamento para prolongar a vida, e que queria passar os seus últimos dias no “conforto” da sua casa com a família, depois de durante o último ano ter sido várias vezes internada, vítima de uma doença crónica pulmonar e de problemas cardíacos.
“Aqueles que a conhecem não ficarão surpreendidos por saber que Barbara Bush tem sido um rochedo a enfrentar a debilidade da sua saúde, preocupando-se não consigo própria, mas com os outros”, declarou o porta-voz da família, Jim McGrath. O seu marido é, aos 93 anos, o ex-presidente dos EUA vivo mais velho de sempre. Sofre de doença de Parkinson e está em cadeira de rodas.
Língua afiada em defesa do clã O seu cabelo branco valeu-lhe a alcunha, por parte do marido – George H.W Bush, 41.º presidente dos EUA – de “Raposa de Prata” e os brincos e os colares de pérolas eram a outra imagem de marca. A sua grande causa como primeira-dama dos EUA foi a alfabetização do país, em especial das crianças, era conhecida pelo mau humor e por ser uma mulher de raciocínio rápido e língua afiada.
Foi assim que defendeu o marido, primeiro, e o filho, George W. Bush, 43.º presidente norte-americano, como conselheira presidencial de ambos. E nunca perdeu a oportunidade de comentar de forma cáustica os adversários políticos da família.
Ainda em 2015, quando Jeb Bush – um outro dos seus seis filhos – se posicionou nas primárias do Partido Republicano para a corrida à Casa Branca e foi repetidamente ridicularizado em termos pessoais pelo putativo nomeado e agora presidente Donald J. Trump, Barbara Bush saiu em sua defesa.
Em entrevistas televisivas, deu a entender que Trump era misógino e odioso. “Disse coisas terríveis sobre as mulheres, coisas terríveis sobre os militares. Não percebo porque é que as pessoas o apoiam”, afirmou à CNN.
Ainda assim, Trump elogiou ontem Barbara Bush pelo papel na alfabetização das famílias norte-americanas, que considerou ser a sua “maior conquista” e anunciou ainda que a Casa Branca vai colocar as bandeiras – até ao final das cerimónias fúnebres, marcadas para sábado, em Houston, Texas – a meia haste em homenagem à antiga primeira-dama.
A Fundação Barbara Bush para a Literacia Familiar começou durante os seus anos na Casa Branca com o objetivo de melhorar as vidas dos norte-americanos menos privilegiados, com uma melhoria da literacia entre os pais e os seus filhos. Até 2014 os parceiros da fundação tinham juntado mais de 40 milhões de dólares para a criação ou expansão de mais de 1500 programas para a alfabetização em todo os EUA.
Começar pela educação “Dar prioridade à família é o melhor sítio para começar a tornar este país mais alfabetizado e continuo a pensar que uma melhor educação vai ser uma ajuda para a resolução de muitos dos outros problemas que afetam a nossa sociedade”, escreveu em 1994. Num outro discurso sobre os efeitos da ilitercia sentenciou: “Espero estar a assustá-los. Eu estou assustada… Estou com os professores que, na maioria das vezes, têm demasiado trabalho e são demasiado mal pagos”.
Nascida Barbara Pierce a 8 de junho de 1925, foi criada em Rye, Nova Iorque, e aos 16 anos conheceu George Bush na escola de dança. Mantiveram-se em contacto durante o tempo que este se alistou como piloto da marinha durante a II Guerra Mundial e casaram-se em 1945. “Casei com o homem que beijei pela primeira vez. Quando conto isto aos meus netos, eles ficam chocados”, confessou
Barbara e George W. H. Bush tiveram seis filhos,: George, Jeb, Neil, Marvin e Dorothy. A segunda a nascer, Robin, morreu de leucemia aos 3 anos. Tiveram ainda 17 netos e sete bisnetos.
Barbara manteve-se sempre ao lado do marido nos seus quase 30 anos de carreira política, que passou pelo senado do Texas, embaixador da ONU, presidente do Partido Republicano, embaixador na China e diretor da CIA.
Chegou à Casa Branca quando o marido foi vice-presidente de Ronald Reagan por dois mandatos e tornou-se primeira-dama quando Bush venceu as eleições em 1988. Os Bush deixaram a Casa Branca em 1993, ao perderem a reeleição para Bill Clinton.
Uma sondagem realizada em 2014 pela “NBC” em parceria com o “The Wall Street Journal” colocou Barbara como a primeira-dama mais popular dos últimos 25 anos.