A relação estabelecida entre Donald Trump e Emmanuel Macron é tão próxima que o presidente dos Estados Unidos até se permite limpar da gola do casaco do seu homólogo francês um “pedaço de caspa” em frente à imprensa. E Macron, pragmático como gosta de se afirmar, mostrou-se, ontem em Washington no segundo dia da sua visita oficial, disposto a negociar um “novo acordo” com o Irão, de modo a satisfazer as pretensões de Trump, que considera o atual “insano”.
Embora, ao contrário de Trump que considera o Programa de Ação Conjunta Abrangente (JCPOA, na sigla em inglês) assinado com o Irão como um “mau acordo”, Macron acha apenas que “não é suficiente”. No entanto, acrescentou que não se deve denunciar o documento antes de ter algo para o substituir.
“Sempre disse que não devemos rasgar o JCPOA e ficar sem nada”, porque “isso não seria uma boa solução”. Como tal, a proposta do chefe de Estado francês é que se negoceie um novo acordo para controlar o poder militar iraniano e a sua influência na região. Acrescentou Macron que as discussões com Trump permitiram “tornar possível criar um caminho para um novo acordo”. Dando a entender que os dois chegaram a um entendimento sobre as bases desse novo acordo.
“A França não é ingénua no que diz respeito ao Irão. Temos um enorme respeito pelo povo iraniano, mas não devemos repetir os erros do passado”, acrescentou Macron.
Por seu lado, Trump, que tem de tomar uma decisão até 12 de maio se a Casa Branca continua a renunciar às sanções ao Irão, tal como ficou estabelecido no JPCOA, preferiu não abrir o jogo se continuará a fazê-lo ou se recua, por achar que o acordo não é bom para os EUA. “Ninguém sabe o que vou fazer no dia 12”, disse o presidente dos Estados Unidos, “embora”, acrescentou com os olhos postos em Macron, “o senhor presidente saiba perfeitamente”.
“Podemos mudar e podemos ser flexíveis. Na vida, temos de ser flexíveis”, disse ainda Trump, dando sinais de que havia ficado convencido pela proposta de Macron de acrescentar um acordo ao já existente. E o presidente francês afirmou que os dois países estavam a trabalhar “intensivamente” para encontrar uma solução que seja do agrado de Washington.
“Em relação ao Irão, estamos em desacordo em relação ao JCPOA, mas achamos que estamos a superá-lo ao decidir trabalhar com vista a um acordo, a um acordo acordo”, explicou o chefe de Estado francês.
No entanto, mesmo no meio de uma conferência de imprensa harmoniosa de dois presidentes a navegar na mesma onda, Trump não deixou de avisar os iranianos caso ameacem os EUA: “Se o Irão nos ameaçar, irão pagar o preço que poucos países alguma vez pagaram”, garantiu o líder da Casa Branca.
Quando um jornalista lhe perguntou na Sala Oval sobre a possibilidade do Irão retomar o seu programa nuclear, Trum disse que “não será fácil para eles retomá-lo. Porque se o recomeçarem estarão em grandes problemas, piores do que alguma vez passaram”, sublinhou o presidente dos Estados Unidos.
Visita de Estado
Na primeira visita de Estado da era Trump, Macron teve direito a todo o charme de anfitrião que Trump reserva apenas para uns poucos. Os momentos de cumplicidade, os toques de mão, a troca de olhares, fazem lembrar aquilo a que se chama nos EUA um bromance, uma relação íntima de amizade entre homens. Onde se incluem mãos dadas, abraços e até beijos na cara.
Aliás, à moda da conjunção de nomes de Brad Pitt e Angelina Jolie, que deu em Brangelina, a relação entre os dois poderia dar um Macrump ou um Trumpcron, e embora o primeiro soe melhor que o segundo, Macron seria capaz de deixar Trump ficar em primeiro.
“Temos mesmo uma relação especial, na verdade até vou limpar esse pedaço de caspa”, disse o presidente dos EUA antes de limpar qualquer coisa da gola do casaco do seu homólogo. “Temos de pô-lo perfeito – ele é perfeito”, disse Trump.
Um momento embaraçoso para Macron que foi completamente apanhado desprevenido pelo gesto despropositado de Trump.