Não era preciso ser adepto do Barcelona para ficar emocionado naquele momento. Aliás, os próprios aficionados do Sevilha, que estava a ser chacinado dentro do campo (5-0 na final da Taça do Rei), pararam durante alguns instantes com as lamentações em relação ao resultado e levantaram-se para prestar tributo a um dos mais geniais futebolistas de sempre: Andrés Iniesta (que até tinha marcado o quarto golo do jogo) havia cumprido os últimos 88 minutos da sua carreira na competição.
O anúncio ainda não foi feito, pelo menos de forma oficial, mas em Espanha já o dão como garantido: Iniesta irá deixar o Barcelona – e o futebol espanhol – no fim desta temporada. Apesar de ainda no ano passado ter assinado um contrato vitalício com o clube blaugrana, o médio também já disse que só ficaria no clube enquanto se sentisse a “200 por cento”. O campeonato chinês parece ser o destino mais provável (o presidente do Chongqing Lifan, equipa orientada por Paulo Bento, é o fundador da Desports, empresa que trabalha em parceria com o médio para exportar o seu vinho, Bodega Iniesta, para aquele país asiático). Ainda assim, já foi também associado ao Manchester City, dada a relação de proximidade que mantém com Pep Guardiola desde que o agora treinador campeão de Inglaterra foi o comandante da nau blaugrana.
Nos 16 anos que leva na equipa principal do Barcelona, Iniesta tem sido peça absolutamente fulcral para os inúmeros sucessos da equipa blaugrana, pela qual conquistou oito campeonatos, seis Taças, sete Supertaças, quatro Ligas dos Campeões, três Supertaças europeias e três Campeonatos do mundo de clubes. E na seleção espanhola, idem aspas: foi ele o autor do golo que deu o título mundial à Roja em 2010, no prolongamento da final com a Holanda, sendo também uma peça preponderante nos triunfos nos Europeus de 2008 e 2012.
Ora, o ano de 2010 é ainda hoje recordado pelos entusiastas desta modalidade como um dos que constituiu uma das maiores injustiças no que respeita à distinção de melhor jogador do mundo. Iniesta conquistou, nessa temporada, quatro troféus com o Barcelona e, como já foi referido, deu o Mundial a Espanha; ainda assim, não foi além do segundo lugar na Bola de Ouro, então atribuída pela primeira vez em conjunto entre a “France Football” e a FIFA, perdendo para Messi e terminando à frente de Xavi – no único ano, desde 2008, em que Cristiano Ronaldo ficou fora do pódio. Dois anos depois, ficaria em terceiro, com Messi novamente como vencedor e Ronaldo em segundo.
A propósito da anunciada saída do Barcelona no fim da temporada, a “France Football” resolveu pôr a mão na consciência e… pediu desculpa a Iniesta por nunca lhe ter atribuído o tão desejado troféu. “É o melhor facilitador de jogo de todos os tempos. A maior parte dos seus contemporâneos complica o jogo, mas Iniesta divertiu-se durante 15 anos, simplificando tudo. Sem qualquer pensamento de vaidade, só o de viver o jogo. O seu talento é inventar para os outros. Sem ele, Messi ter-se-ia cansado muito mais rapidamente do Barcelona”, pode ler-se num editorial intitulado “Desculpa Andrés”, que descreve ainda a ausência do médio – que a 11 de maio celebra o 34.º aniversário – na história da Bola de Ouro como “dolorosa”.
Tantas estrelas sem troféu Iniesta está, ainda assim longe de ser o único injustiçado na história deste prémio. Desde logo, saltam à vista as ausências dos nomes de Pelé e Maradona, embora estas sejam facilmente justificáveis: o prémio, entregue desde 1956, foi atribuído unicamente a jogadores europeus até 1995 – e só a partir de 2006 passou a abranger jogadores a atuar em qualquer continente.
Muitos foram aqueles que ficaram às portas do troféu… mas nunca o conseguiram arrebatar. Como o já referido Xavi, outra peça essencial no super-Barcelona das últimas duas décadas. Ou Ribèry, que em 2012/13 ganhou tudo o que havia para ganhar com o Bayern Munique – acabou em terceiro na eleição, atrás de Ronaldo e Messi. Ou mesmo os portugueses Paulo Futre e Deco: o extremo acabaria em segundo em 1987, ano em que se sagrou campeão europeu com o FC Porto, apenas atrás do holandês Ruud Gullit; o médio seria igualmente vice em 2004, mais uma vez num ano em que os dragões venceram a Liga dos Campeões (e Portugal foi finalista vencido no Europeu), com o prémio a ser atribuído ao ucraniano Shevchenko.
Thierry Henry (segundo em 2003 e terceiro em 2006), Cantona (terceiro em 1993), Beckham (segundo em 1999), Kahn (terceiro em 2001 e 2002), Bergkamp (terceiro em 1992 e segundo em 1993), Raúl (segundo em 2001) ou Maldini (terceiro em 1994 e 2003) foram mais casos de jogadores que estiveram muito perto. Tal como Neymar, terceiro em 2015 e 2017 – este, porém, ainda vai a tempo de reclamar para si o troféu, pois tem 26 anos e é apontado unanimemente como o mais provável sucessor de Ronaldo e Messi nestas contas.
Mas há ainda nomes que nem conseguiram sequer aparecer na lista final. Aqui, o mais gritante será o de Zlatan Ibrahimovic, indiscutivelmente um dos melhores jogadores do mundo nas últimas duas décadas, com títulos colecionados por Ajax, Juventus, Inter de Milão, Barcelona, AC Milan, PSG e Manchester United. Mas também os holandeses Seedorf (vencedor de quatro Ligas dos Campeões por três clubes diferentes – Ajax, Real Madrid e AC Milan), Robben ou Sneijder, ambos vice-campeões do mundo em 2010 – num ano em que este último levou o Inter de Milão de José Mourinho às costas até à vitória na Champions; ou os italianos Del Piero e Pirlo.