Vários voos da Vueling vão ser afetados por uma greve de pilotos da companhia, anunciada para os dias 3 e 4 de maio. Lisboa e Porto encontram-se entre as ligações que vão sofrer perturbações. O facto de os pilotos reivindicarem aumentos salariais já tinha levado ao cancelamento de 18 voos de e para Portugal na quarta e na quinta-feira.
A companhia do grupo IAG, que inclui a Iberia e a British Airways, tem estado debaixo de fogo nas negociações do acordo coletivo de trabalho (ACT). Para os trabalhadores tem sido claro que as condições que têm estado a ser apresentadas pela transportadora são inferiores às de outras concorrentes.
O International Airlines Group, cujo principal acionista é a Qatar Airways, foi constituído com uma estrutura orientada para a futura aquisição de companhias aéreas e, nos últimos anos, já comprou a totalidade das ações da Vueling e da Aer Lingus.
Acontece que, ao que tudo indica, nem sempre as contas do grupo se encontram de boa saúde. No ano passado, as quebras de tráfego tanto da Vueling como da British Airways chegaram mesmo a penalizar o grupo. O mês de agosto foi dos mais magros e as quebras fizeram-se sentir tanto nos setores internacionais intra-europeus como na Ásia e Pacífico.
Em RPK (passageiros x quilómetros voados), as quebras chamaram a atenção principalmente no setor da Europa, em que a Vueling é a principal força do grupo. Agora, o grupo enfrenta ainda a situação de conflito com os pilotos que exigem melhores condições de trabalho
No entanto, não é apenas nesta companhia aérea que se perspectiva o que poderá tornar-se numa verdadeira crise de pesadas consequências pesadas os passageiros e para as companhias. No caso da TAP, por exemplo, há muito que foi deixada em cima da mesa a possibilidade de haver uma paralisação nos meses mais quentes.
Começaram por recusar trabalhar fora do horário e não foi excluída a possibilidade de assistirmos a uma situação mais extrema. Com o argumento de que não há «aviação sem aviadores», estes profissionais tentaram chegar a acordo para uma revisão salarial. A TAP começou por falar de um valor. Os pilotos de outro. «Estivemos vários anos sem alterações nos vencimentos. Agora não queremos receber mais 1%. Queremos um aumento que vá ao encontro do que acontece a nível internacional», explica fonte ligada ao processo. O aumento de que falam estes profissionais é na ordem dos 43% e «é fácil de explicar»: «Há cada vez mais dificuldade em encontrar pilotos, até porque a aviação tem vindo a crescer nos últimos tempos. É preciso perceber que existem companhias nos EUA em que um piloto recebe mais 2 mil euros para voar fora do horário.»
A Madeira, por exemplo, tem sido um dos destinos com mais voos cancelados. A transportadora fala em condições meteorológicas, nomeadamente o vento forte, mas há quem tenha outra versão. O motivo de tantos cancelamentos? «A falta de pilotos», refere a mesma fonte. A questão tem sido um foco de tensão entre os madeirenses e Miguel Albuquerque, chefe do executivo madeirense, lamenta que tenha existido ainda uma intervenção do Estado, que tem a maioria do capital. A TAP foi então forçada a garantir cinco anos de paz social. A companhia aérea chegou, esta semana, a acordo com o Sindicato dos Pilotos para um aumento dos salários de 15% até 2022. Segundo Antonoaldo Neves, nestes cinco anos não haverá greves.
A braços com o êxodo
A esta realidade soma-se uma outra. Cerca de metade dos pilotos das low cost estão em situações precárias. A European Cockpit Association (ECA) diz que não há falta de pilotos na Europa. O que falta são condições que impeçam que estes profissionais aceitem trabalhar na Ásia ou nos países do Golfo, por exemplo.
As posições de força da parte dos pilotos têm vindo, aliás, a multiplicar-se, no últimos anos, em várias companhias. Em setembro do ano passado, por exemplo, os pilotos da Ryanair garantiam mesmo que «a boa vontade» tinha acabado. Para os pilotos desta empresa, o bónus de 12 mil euros para trabalhar nos dias livres não passava de uma afronta. A tempestade agravou-se, com centenas de voos cancelados.
A empresa continuava a querer atenuar o impacto, mas os pilotos optaram por um braço de ferro e declararam ser inadmissível as condições de trabalho: em regimes autónomos, sem segurança contratual ou garantias de reforma, baixa ou férias.
A Ryanair continuou com a estratégia de tentar aliciar os pilotos de serviço com promessas de bónus, mas apenas conseguiu aumentar a indignação dos trabalhadores que começaram a deixar a companhia e a escolher transportadoras concorrentes a um ritmo cada vez mais acelerado. O presidente executivo da Ryanair, Michael O’Leary, sublinhou várias vezes que o problema com os pilotos tinha a ver com uma falha no planeamento de férias, mas só a concorrente Norwegian Airlines contratou, em pouco tempo, mais de 140 trabalhadores.
A verdade é que, de acordo com a associação de pilotos irlandesa, em apenas alguns meses de 2017, a transportadora aérea de baixo custo perdeu 700 pilotos. De acordo com fonte ligada à Ryanair, estava aberta a época ao «êxodo de pilotos para companhias do Médio Oriente e da China, por exemplo».
Ao descontentamento dos pilotos soma-se ainda o descontentamento dos tripulantes de cabine da Ryanair, que admitem a possibilidade de uma greve europeia no verão.