A ideia de envelhecer nunca agradou à espécie humana. Não admira, por isso, que ao longo da História se tenham procurado soluções para tentar travar o processo natural da vida.
Depois de tantas tentativas falhadas, a busca parece ainda prosseguir em pleno séc. xxi e as empresas que trabalham na área da dermocosmética reivindicam alguma liderança. A mais recente proposta foi anunciada em Split, na Croácia, na primeira Ecobiology Summit, organizada entre 18 e 19 de abril pelo MedILS – Instituto Mediterrânico Para as Ciências da Vida e pela NAOS, grupo detentor das marcas de cuidado dermatológico Bioderma, Esthederm e Etat Pur.
O “novo” elixir está ainda em processo de criação, mas na base do seu desen-volvimento está, precisamente, a inquietação quanto ao envelhecimento. E durante a conferência, numa das primeiras apresentações à imprensa, não faltou espanto quando responsáveis do grupo NAOS admitiram mesmo que um dos objetivos é “curar o envelhecimento”.
Uma parceria através da ecobiologia Os homens à frente da NAOS – Jean- -Noël Thorel – e do MedILS – Miroslav Radman – conheceram-se há apenas dez anos, mas a amizade que os une baseia–se numa visão comum, mapeada por valores como a inovação e a ambição, fizeram questão de sublinhar. E foi isso que os levou a celebrar uma parceria entre as duas instituições, baseada naquilo que defendem ser uma nova ciência ou uma nova “maneira de ver as coisas”, nas palavras de Thorel: a ecobiologia, mote da conferência em que o i marcou presença.
Jean-Noël, biólogo e farmacêutico francês, criou em 1977 os primeiros produtos das marcas Bioderma e Esthederm, com uma premissa diferente dos produtos que existiam, à época, no mercado – centrados numa ideia de embelezamento superficial. Na base do trabalho de Thorel estava a ideia de que “quando a pele sofre, em vez de a tratarmos, devemos ensiná-la a funcionar adequadamente”.
Hoje, cada uma das três marcas do grupo tem um enfoque específico, mas todas operam à luz do conceito de ecobiologia cunhado por Thorel, que o define como “a biologia sistémica da pele, que visa perceber as interações entre o ambiente (ar, luz e água) e a interface do corpo (microbioma e secreções) funcionalmente integrados na pele (epiderme e derme)”.
O conceito atraiu a atenção de Miroslav, biólogo croata e cofundador do MedILS, inaugurado em 2003. O slogan da instituição é “think the unthinkable”, mote de uma “investigação fora do comum”, descrevem, o estudo da química do envelhecimento e o tratamento de doenças com ele relacionadas.
Com a parceria celebrada, NAOS e MedILS, elucidaram Thorel e Miroslav, querem “prevenir e curar todos problemas e doenças relacionados com o envelhecimento”.
Investigação e conclusões Um dos principais temas de investigação em cima da mesa por parte das duas entidades é a pesquisa sobre os danos que as pressões ambientais têm nas proteínas das células. Porquê as proteínas em particular se é genericamente aceite no seio da comunidade científica que o ADN tem um papel central no processo de envelhecimento e nas doenças que advêm do avanço da idade? Os investigadores acreditam que, mais do que interferir no ADN, será invertendo o processo de oxidação das proteínas que é possível combater a morte celular. Em concreto, acreditam que o problema está na chamada carbonilização de proteínas, fenómeno já descrito em alguns estudos e que basicamente é um tipo de oxidação já associado a algumas doenças, de condições neurodegenerativas como Alzheimer a lesões musculares.
Agora, a partir destas conclusões, os cientistas querem perceber se é ou não possível travar a carbonilização das proteínas. Para tal, têm curso experiências com tocoferol – uma molécula conhecida pelos seus efeitos antioxidantes –, entre outras moléculas que estão a desenvolver.
A descoberta de uma geração de moléculas “mágicas” A promessa de uma cura para o envelhecimento não está muito longe de ser cumprida: Thorel assegura que daqui a dois anos chegará ao mercado uma nova geração de moléculas para prevenir o envelhecimento, integrada em produtos da marca Esthederm, vocacionada para o envelhecimento da pele.
Em conversa com o i, o fundador e diretor da NAOS fala mesmo numa revolução no mercado: “Esta molécula vai evitar a carbonilização das proteínas e isso vai evitar e retardar o envelhecimento. Vai ser uma coisa completamente nova porque, neste momento, o que existe no mercado são produtos antienvelhecimento que combatem os sinais já existentes na pele. Aqui estamos a falar de uma ação biológica, que vai retardar o envelhecimento.”
Resta esperar, até porque várias moléculas têm chamado a atenção pelas suas propriedades antienvelhecimento, mas o elixir da juventude continua por descobrir. Uma delas é o resveratrol, presente, por exemplo, no vinho tinto.
Outra aposta são as dietas de restrição calórica, que têm mostrado algum resultado em modelos animais. Uma investigação publicada em março na revista científica “Cell Press” sugeriu que reduzir a ingestão calórica em 15% durante dois anos parece atrasar o envelhecimento e ter algum efeito protetor em relação a doenças da idade. Diminuir o stresse oxidativo é um dos efeitos.
Outra ideia hoje mais acessível é que é possível combater alguns efeitos do envelhecimento através de exercício físico. Um outro trabalho publicado em março pela Universidade de Birmingham concluiu que fazer exercício de forma regular ao longo da vida melhora o sistema imunitário e a massa muscular, mas também os níveis de colesterol. A amostra foram 125 ciclistas amadores entre os 55 e os 79 anos, que tinham genericamente melhores indicadores do que um grupo de controlo com idades parecidas.