Por detrás do conceito de ecobiologia está um grupo de dermocosmética, mas na primeira edição do Ecobiology Summit reiterou-se a transversalidade desta “forma diferente de ver o mundo”, com possibilidades “de se tornar uma ciência”, na visão de Jean-Noël Thorel.
Evidência disso foi o painel de oradores convidado pela organização, composto por especialistas tão distintos como médicos, biólogos, cientistas ou neurocientistas. À procura de definições e respostas sobre o que é a ecobiologia, uma das primeiras conversas do dia de arranque do evento reuniu precisamente à volta da mesa esses especialistas. E se no exterior da Vila Dalmacija, em Split, onde se situa o MedILS – Instituto Mediterrânico Para as Ciências da Vida, os pássaros cantavam e as águas do Adriático pouco mexiam, dentro da sala as águas foram agitadas e houve discórdia.
Particularmente evidente foi o ceticismo de Walter Gilbert, físico e bioquímico norte-americano distinguido com o prémio Nobel da Química em 1980 e para quem é “absurdo” olhar para a ecobiologia como uma ciência, à luz da qual a realidade é vista de forma diferente de como tem sido até aqui. Para Gilbert, “é errado olhar para trás e dizer que afinal deviamos estar a fazer tudo de outra forma”, especialmente porque tem funcionado até aqui. Não é o único a defender esta ideia: outro dos intervenientes da conversa, o biólogo norte-americano Errol Friedberg, também partilha do ceticismo.
A transversalidade da ecobiologia Uma das convidadas da mesa redonda era Brigitte Dréno, diretora do Departamento de Dermatologia do Hospital Universitário de Nantes (França), que voltou a virar as atenções para a ligação entre ecobiologia e a pele. “Quando se fala de cancro, sabemos que hoje a ligação entre tecido e célula é muito importante. E isso, essa intenção, é um exemplo do que pode ser a ecobiologia”, defendeu a responsável.
A intervenção de Idriss Aberkane, pensador doutorado em neurociências, literatura comparada e geopolítica, deu um novo rumo ao debate e abriu os horizontes quanto àquilo que a ecobiologia pode significar. “A escravatura foi o maior desafio do século XIX. No século XX, foi a vez do apartheid. No século XXI, acho que vai ser o lixo, e não tenho dúvidas de que a ecobiologia vai ser muito importante para chegarmos a uma resposta sobre o que fazer quanto ao lixo”, defendeu Aberkane.
E será a ecobiologia algo de novo? Se Miroslav Radman está convencido que sim, já o prémio Nobel da Química Walter Gilbert refuta essa hipótese, defendendo que a ecobiologia não é mais do que a biologia integrativa, mas com um nome mais pomposo.
Ecobiologia: possibilidades infinitas? Depois de várias apresentações de intervenientes de diferentes áreas, o encerramento do primeiro Ecobiology Summit coube a Philippe Compagnion, apresentado pela organização do evento como um “especialista em transformação” e um “consultor de estratégia”, com um percurso no mundo na informática.
O orador fez um exercício simples para mostrar a aplicabilidade deste campo de estudo. Philippe Compagnion aplicou os seis princípios enunciados pela NAOS sobre a ecobiologia da pele à realidade de uma empresa. O resultado, lido pela sua voz, foi elucidatório – e colocou a tónica na possibilidade de, no lugar da palavra “empresa”, poderem estar tantas outras. “A empresa é um ecossistema: uma empresa é uma rede de relações internas; a empresa está em conexão com o seu ambiente: uma empresa é uma rede de relações externas; a empresa evolui ao longo do tempo: deve expandir e dominar as suas capacidades de desenvolvimento; a empresa não deve ser cuidada em exagero: o propósito da sua gestão não é desencadear ações, mas criar condições paropriadas para as ações; a empresa é o reflexo do equilibrio interno: as ações não são impulsionadas por uma vontade externa de competir com outros mas por uma vontade interna de ‘florescer’; a empresa só precisa daquilo que é útil ao seu funcionamento natural: deve desenvoler a capacidade de discernir aquilo que é ‘bom o suficiente’”.