É comum ouvirmos dizer: ‘São tão diferentes que nem parecem irmãos!’ ou ‘Nem parecem filhos dos mesmos pais’. Mas não é o facto de serem filhos dos mesmos pais que os torna iguais, muito pelo contrário.
Além de cada filho ter a sua personalidade de forma inata, os pais, ainda que sejam os mesmos, são-no em diferentes alturas da vida, o que os torna necessariamente mudados. Não só pela maturidade que vão adquirindo mas sobretudo por estarem perante o primeiro, segundo, terceiro, quarto, quinto ou décimo filho. Por outro lado, os próprios filhos também influenciam a maneira de estar e de ser dos irmãos.
Geralmente o primeiro filho é um emaranhado dos desejos e receios dos pais. É nele que se põe em prática toda a arte da paternidade. A educação é dada precisamente como se imaginou, nem mais, nem menos e ‘Ai’ de quem diga que não é a certa. As regras são claras e precisas, a alimentação é dada segundo as normas da DGS, a roupa é escolhida a preceito, os biberões e chuchas são esterilizados e as sessões fotográficas repetem-se a um ritmo diário ou no máximo semanal. Tudo é feito escrupulosamente. É também no primeiro filho que os pais são mais inseguros e que sobretudo as mães parecem leoas na sua defesa e lançam as garras sempre que algum estranho – que pode até ser alguém bem conhecido – se aproxima. Costumam ser os mais responsáveis e mais sensatos, os mais dependentes e os mais próximos – ainda que muitas vezes não por prazer mas por uma espécie de culpabilidade que não os deixa seguirem livremente o seu caminho. Estes filhos são muito o fruto das expectativas dos pais e são-lhes mais permeáveis, o que acarreta alguns riscos.
Quando o segundo filho nasce o mais velho perde ao mesmo tempo o privilégio de ser único e de ser bebé, o que o pode deixar revoltado e também o faz crescer demasiado depressa. Os pais esperam dele uma maturidade e compreensão que dificilmente tem. Geralmente nesta altura os pais estão mais cansados e se para usufruírem de uns minutos de descanso tiverem de permitir que o bebé vire a casa do avesso assumem que é o preço a pagar. São mais descontraídos em relação às suas regras e objetivos e o segundo filho é criado com maior naturalidade, cresce com maior liberdade, longe da teia dos pais, chegando por vezes a ser insubordinado. São normalmente crianças mais independentes e mais ariscas.
No entanto, caso o primeiro filho se tenha imposto mais em casa, seja mais irrequieto e birrento e deixe pouco espaço ao segundo, o mais novo será tendencialmente mais fácil e mais calmo. Ou seja, há uma propensão para ter um filho mais calmo depois de um mais irrequieto e vice-versa.
Há quem diga acerca de melhores amigos: ‘Se fossem irmãos não seriam tão parecidos’. E com toda a razão. Longe da teia familiar – e muitas vezes contra ela – é mais fácil amigos próximos identificarem-se e aproximarem-se de tal forma que chegam a parecer fotocópias.