Nuclear. Agência atómica desmente provas de Netanyahu sobre o Irão

Europeus não vêm nos documentos secretos apresentados provas para denunciar o acordo. Antes pelo contrário, a sua necessidade sai reforçada, garantem a UE, Reino Unido e França 

A Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), encarregada de vigiar o programa nuclear iraniano, veio ontem desmentir as ditas provas apresentadas pelo primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, garantindo que o governo de Teerão abandonou o seu propósito de construir uma arma nuclear em 2009.
“A agência não tem qualquer indicação credível de atividades  no Irão relevantes para o desen-volvimento de um dispositivo explosivo nuclear depois de 2009”, refere em comunicado a organização. Baseado no relatório do diretor-geral, o conselho de governadores declarou que a sua consideração sobre o assunto está encerrada.
O primeiro-ministro israelita anunciou na segunda-feira que os seus serviços de inteligência  haviam conseguido documentos secretos do programa nuclear iraniano que provam que o Irão continua a desenvolver armas nucleares, em clara violação do acordo internacional assinado em 2015 – o mesmo acordo que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, considera muito mau e que poderá vir a denunciar no dia 12.
O governo iraniano chamou ontem “mentiroso” a Netanyahu e garantiu que desde que assinou o acordo, há três anos, nunca desenvolveu qualquer arma nuclear, mas Netanyahu convidou Alemanha, Reino Unido e França, três dos signatários do acordo, a enviarem mandatários a Israel para analisar a autenticidade dos documentos.
Mike Pompeo, ex-diretor da CIA e novo secretário de Estado de Donald Trump, que visitou Israel este domingo, já garantiu que os documentos são verdadeiros: “Posso confirmar que os documentos são reais, são autênticos.”
Para Pompeo, quem mente é Teerão e tem-no feito “repetidamente à AIEA”, bem como “aos seis países com os quais negociou” o acordo nuclear, e os documentos revelados por Israel mostram “sem qualquer dúvida” que o Irão não contou a verdade.
Mas os argumentos israelitas, secundados pelos EUA, não parecem convencer os países europeus a afastar-se da linha que têm defendido até agora: a de que o acordo, mesmo não sendo perfeito, é importante para evitar que o Irão desenvolva armas nucleares.
“O acordo nuclear com o Irão não está baseado na confiança; antes assenta em verificação minuciosa”, afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, Boris Johnson, enquanto um porta-voz do ministro dos Negócios Estrangeiros francês dizia que os dados apresentados por Israel vêm reforçar a necessidade do acordo.
“A pertinência do acordo é reforçada pelos detalhes apresentados por Israel: toda a atividade ligada ao desenvolvimento de armas nucleares é proibida de forma permanente pelo acordo”, disse o porta-voz. “O regime de inspeção montado pela AIEA, graças ao acordo, é um dos mais exaustivos e o mais sólido da história da não-proliferação nuclear”, acrescentou.
Também a chefe da diplomacia da União Europeia, Federica Mogherini, sublinhou essa ideia: “Não vi por agora nos argumentos do primeiro-ministro Netanyahu nada sobre não cumprimento, ou seja, violação pelo Irão dos seus compromissos nucleares no âmbito do acordo”.