Reino Unido. Uma crise política que chega na pior altura para May

Primeira-ministra tenta distanciar-se do escândalo que levou à demissão da ministra do Interior. Negociações do Brexit em risco, sublinha Barnier, o negociador da UE

Nomear Sajiv Javid, filho de um motorista de autocarro paquistanês, para ministro do Interior, depois da demissão de Amber Rudd por causa da legislação destinada a conter a imigração no Reino Unido (o escândalo Windrush) foi a resposta arranjada por Theresa May para tentar conter o caso e não deixar que a crise política se estenda ao restante do seu gabinete.

“Amber Rudd foi muito clara nas razões para a sua demissão – por causa da informação que deu na Casa dos Comuns e que não era correta”, afirmou a primeira-ministra, sublinhando que o seu governo apenas estava a dar resposta a um desejo da população com o reforço da legislação: “Aquilo que estamos a fazer é responder às necessidades que as pessoas sentem  que um governo tem de responder no que diz respeito à imigração ilegal”.

Tanto May como o seu novo ministro do Interior apressaram-se a sublinhar que a demissão nada teve a ver com “o ambiente hostil” no Reino Unido em relação aos imigrantes, nomeadamente a chamada geração Windrush (imigrantes dos países das Caraíbas que chegaram ao Reino Unido entre 1948 e 1971, ficaram assim conhecidos por causa do nome do barco que trouxe a primeira leva da Jamaica, Trindade e Tobago e outras ilhas, o Windrush).

“Eu penso que a terminologia é incorreta, penso que é uma frase que não ajuda e não representa os valores deste país”, sublinhou Sajiv Javid. “Tal como a geração Windrush, os meus pais chegaram a este país vindos da Commonwealth nos anos 1960. Também eles vieram ajudar a reconstruir este país e a dar tudo o que tinham”, disse o novo ministro. “É por isso que estou pessoalmente empenhado e comprometido em resolver as dificuldades que enfrentam as pessoas da geração Windrush, que construíram aqui a sua vida e tanto contribuíram”, acrescentou.

Em declarações à Sky News, May não se coibiu a dizer que quando era ministra do Interior “havia objetivos em termos de remover pessoas do país que estavam aqui ilegais”, deixando por responder se essa política teria tido impacto na dificuldade que a geração Windrush tem para garantir a documentação que lhe permita atestar da sua legalidade no país.
“São britânicos, são parte de nós. Mas vamos lidar com isso, iremos garantir que a estas pessoas sejam dadas as certezas que precisam, mas também precisamos de assegurar que estamos a lidar com a imigração ilegal”, acrescentou a primeira-ministra.

Crise política em má altura A crise política chega numa altura em que Theresa May está cada vez mais pressionada pelo tempo e por Bruxelas para conseguir negociar o resto do dossier do Brexit. Michel Barnier, chefe dos negociadores da União Europeia, voltou ontem a insistir com Londres para desbloquear o impasse atualmente existente nas negociações, apresentando uma solução que possa ser aceite pelos 27 sobre a questão da fronteira da Irlanda do Norte.
“Enquanto não alcançarmos um acordo e uma solução operacional para a Irlanda do Norte, uma garantia, e estamos abertos a qualquer proposta… existe um risco, um risco real”, afirmou Michel Barnier aos jornalistas na Irlanda, na sua terceira visita ao país desde o referendo britânico que determinou a saída do Reino Unido da UE.

Afirmando não estar nem otimista, nem pessimista, mas “determinado”, Barnier sublinhou que a solução garantida é necessária e está sobre a mesa “por causa das linhas vermelhas estabelecidas pelo Reino Unido”. Em entrevista ao “Sunday Times”, o negociador da UE explicou que “o Brexit criou um problema específico na Irlanda”, como tal, é da “responsabilidade do Reino Unido apresentar uma solução prática” para a questão. “Até agora, no entanto, não recebemos nenhuma solução prática”, acrescentou.

A saída de Rudd do governo deixou May sem uma aliada nas negociações com a UE, numa altura em que a primeira-ministra voltou ontem a perder uma votação sobre o assunto na Câmara dos Lordes, a sétima derrota seguida. Neste caso, a emenda, que passou com o apoio de 19 conservadores rebeldes, permite que o parlamento envie ministros a Bruxelas para continuar a negociar, caso o acordo de Brexit conseguido por May não seja aprovado pelos deputados.