A irmã do ex-procurador do DCIAP acusado de ser corrompido por Manuel Vicente continuou ontem a ser ouvida em tribunal, tendo revelado que o advogado Paulo Sá e Cunha (que defendeu o antigo magistrado numa fase inicial ) lhe garantiu que se Orlando Figueira continuasse a omitir os nomes do banqueiro Carlos Silva e do advogado Daniel Proença de Carvalho teria um trabalho à sua espera em Angola. Em causa está um alegado acordo de cavalheiros que Orlando Figueira diz ter feito com Proença de Carvalho que o terá privado de contar a verdade nos primeiros interrogatórios – ou seja, que foi contratado pelo banqueiro Carlos Silva.
A promessa alegadamente feita por Sá e Cunha na última de três reuniões, segundo contou ao coletivo Maria Figueira, aconteceu numa altura em que o antigo procurador já estava em prisão domiciliária. Pouco tempo depois – e muito por pressão da irmã – o antigo magistrado decidiu deixar de ser representado por Sá e Cunha. O arguido conta agora que o seu ex-advogado estava a ser pago por Carlos Silva.
“Os meus atritos com o dr. Paulo Sá e Cunha é que eu achava que o dr. Paulo Sá e Cunha tratava o meu irmão como um burrinho, acenando-lhe com a cenoura. O meu irmão andava sempre à espera e eu em sofrimento”, disse Maria Figueira.
“Na última reunião com Paulo Sá e Cunha foi-me dito que se Orlando Figueira ficasse calado teria um bom trabalho em Angola”, recordou a testemunha, explicando que o advogado terá ainda justificado com questões culturais o atraso do banqueiro Carlos Silva em vir assumir em público que tinha sido ele a contratar Orlando Figueira e não o ex-presidente de Angola Manuel Vicente.
“Disse-me: ‘Os angolanos são lentos, têm outro ritmo que não o nosso”, referiu.
A irmã do antigo procurador contou ainda que logo após ser detido e levado para a prisão de Évora, Sá e Cunha levou ao seu irmão “um papel que o dr. Proença de Carvalho tinha mandado levar para que ele assinasse”. Maria Figueira contou perante os juízes que ao menos nesse momento o antigo procurador não foi ingénuo: “Teve esse discernimento e não aceitou assinar”. Mas não sabe ainda hoje que papel era, dado que quando mais tarde o irmão pediu para ter acesso ao mesmo tal lhe foi negado.
Admitindo que desde que foi detido que Orlando Figueira vive às suas custas – com uma mensalidade de dois mil euros por mês – Maria Figueira garantiu ser seu todo o ouro e pérolas que foram encontrados no seu cofre, tendo reconhecido peça a peça.
Quanto aos envelopes que estavam no mesmo cofre com a inscrição “Mano”, diz que se tratava de dinheiro que o irmão lhe tinha devolvido, na sequência dos empréstimos que lhe fazia.
Por entre alguns momentos de maior emoção, nomeadamente quando se falou no momento da detenção, a testemunha disse que o irmão nunca aceitaria ser corrompido.
Para a próxima semana está marcada a audição do banqueiro luso-angolano Carlos Silva.