A ETA, Euskadi Ta Askatasuna (País Basco e Liberdade) dá por “concluída toda a sua atividade política” e assinala, num comunicado lido por Josu Urritukoetxea, “o final da sua trajetória”, garantindo que não será “mais que um agente que manifeste posições políticas, promova iniciativas e interpele outros atores”. Numa declaração áudio enviada na quinta-feira às 14 horas, a organização armada basca garante que “desmantelou todas as suas estruturas”. O comunicado apela para que as ex-militantes e os ex-militantes da organização armada continuem uma luta por uma “Euskal Herria [terra dos que falam basco] reunificada, independente, socialista, euskaldune [onde se fale o basco] e não patriarcal”.
Na carta enviada anteriormente a outras organizações políticas, a ETA explica que no debate realizado por “todos” os seus militantes resolveu pôr fim a um ciclo histórico de 60 anos, ainda que avise que a sua dissolução não implica a superação do conflito político que opõe o País Basco aos Estados espanhol e francês. Esse conflito “não começou com a ETA nem termina com o final da trajetória da ETA”.
Nessa mensagem lembram-se as várias tentativas de negociação entre o Estado espanhol e a ETA, que tiveram “negociações formais”, “conversações secretas”, com “muitas propostas”, “mas que não foram capazes de chegar a um acordo nem entre a ETA e os governos, nem entre as forças políticas bascas. A responsabilidade desse falhanço é compartilhada e a ETA assume a que lhe corresponde”.
As várias declarações da ETA foram apelidadas de “manobra de propaganda” e “ruído” pelo chefe do governo do PP, Mariano Rajoy. Para o líder da direita, “a única verdade é que a ETA foi derrotada pela ação do Estado de direito e a fortaleza da democracia espanhola”. O primeiro-ministro espanhol avisou que a ETA pode anunciar a sua desaparição, mas ficam por resolver muitos dos seus crimes. “Façam o que façam, não vão encontrar nenhum resquício de impunidade para os seus crimes”, disse.
Este processo de dissolução da ETA é devido à teimosia de dois líderes da esquerda basca, Arnaldo Otegi e Josu Urritukoetxea, que durante anos travaram uma batalha interna para levar os militantes da ETA a acabar com os atentados e com um conflito armado que custou mais de 800 mortos ao longo de décadas. Os seus esforços foram bastante dificultados pela prisão de Otegi, que levou Urritukoetxea a sair da legalidade, em que era deputado, e a assumir a direção da ETA.
Apesar do final da organização basca, o conflito está longe de estar resolvido. Há uma sociedade em que a dor das vítimas está longe de ser sanada e as questões políticas subjacentes ao conflito ainda mais longe de serem superadas. Se a ETA liquidou cerca de 800 pessoas durante décadas de existência, o Estado espanhol organizou também esquadrões da morte que mataram dezenas de bascos e, segundo um relatório oficial do governo basco, as autoridades são responsáveis, ao longo dos anos, por mais de 4 mil casos de tortura, muitos deles de gente que nada tinha que ver com o terrorismo, e a grande maioria dos atos de tortura feitos durante a democracia. Sobram em prisões fora do País Basco mais de 400 presos bascos. E é verdade, há ainda a questão política, de que, a exemplo da Catalunha, o governo espanhol não quer ouvir falar: mais de 69% dos bascos são favoráveis a um referendo sobre a independência do seu país.