O Movimento 5 Estrelas (M5E) e a Liga afirmavam ontem ao princípio da noite que tinham dado “passos significativos” com vista à concretização de um acordo para governar a Itália. “Foram dados passos significativos na composição do governo e na nomeação de um primeiro-ministro”, referiram Luigi di Maio, atual líder do M5E, e Matteo Salvini, líder da Liga, numa conferência conjunta.
Aos dois partidos deu agora o presidente Sergio Mattarella algum tempo para acertar agulhas. “Pediram-nos até domingo e no domingo esperamos uma resposta”, referiu uma fonte presidencial à Reuters.
Depois de nove semanas de incerteza devido ao resultado das eleições de 4 de março, os dois partidos eurocéticos conseguiram aproximar posições e, sobretudo, a Liga logrou desfazer o seu acordo de coligação à direita, condição imprescindível para negociar imposta pelo movimento antissistema criado por Beppe Grillo.
Luigi di Maio, o atual líder do M5E, foi sempre inflexível nesse aspeto: formar governo, só com a Liga. A Força Itália e, sobretudo, o ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi são símbolos da velha política, do sistema apodrecido contra o qual o M5E foi criado e contra o qual luta.
A Liga, que já foi Liga Norte e se rebatizou para ganhar maior implementação territorial e credibilidade acrescida, começou por afirmar que a coligação com a Força Itália e os Irmãos de Itália – pequeno partido de centro–direita criado em 2014 – era para manter. Perante a recusa de Di Maio em sentar-se à mesa com Berlusconi, Salvini, o líder da Liga, deu o dito por não dito e começou a pressionar Berlusconi para este dar um passo ao lado pelo bem de Itália – algo que Il Cavaliere se mostrou muito avesso a cumprir.
A pressão dos seus deputados, o medo de ter de participar em medidas económicas impopulares, a esperança de uma sentença favorável do Tribunal Europeu que lhe permitirá voltar a ser candidato, bem como a necessidade de reorganizar a Força Itália, depois de não ter conseguido bater a Liga nas eleições de 4 de março, são algumas das razões apontadas para que o ex–primeiro-ministro tenha finalmente cedido à pressão, saindo de cena para permitir à Liga entrar no governo.
O ex-primeiro-ministro, que pode ser acusado de tudo menos de não ter instinto político, estará a apostar na fragilidade da ligação entre o M5E e a Liga, para depois fazer dos despojos plataforma para chegar de novo ao poder.
Se, por um lado, é bom que a terceira maior economia da zona euro tenha, por fim, um executivo, por outro, ter este governo de dois movimentos eurocéticos e populistas a liderar Itália não deixa ninguém descansado no país e em Bruxelas.
“A perspetiva de ter um governo de partidos eurocéticos cria incertezas”, disse à Reuters Vincenzo Longo, analista de mercados da IG. “Os investidores poderão não confiar num governo destes e temer que a dívida aumente”, acrescentou.
É possível que os investidores tivessem subestimado a possibilidade de ter um governo do M5E e da Liga ou buscado a opção de enterrar a cabeça na areia, esperando que as conversações fracassassem e a inevitabilidade de novas eleições trouxesse um futuro mais desanuviado para a política italiana. Até porque, se havia um cenário eleito como o pior de todos pelos especialistas financeiros, é este que parece agora estar mesmo a concretizar-se. A descida de impostos é mesmo uma das poucas políticas que os dois partidos têm em comum.