O governo de Espanha aceita, por agora, a existência de um governo eleito da Catalunha, mas não é claro que vá permitir que esse governo tenha poderes.
Na segunda-feira, o delegado do governo de Espanha na Catalunha informou as Finanças que continuará a controlar as despesas do governo – o que levou o novo presidente eleito, Quim Torra, a declarar taxativamente: “Se o governo não tem o controlo das suas finanças, não é autónomo”, assegurando que não aceitará as condições que foram impostas, pela força, antes do referendo independentista de 1 de outubro de 2017. “O 155 foi aprovado para prejudicar os independentistas e acabou a prejudicar todos os catalães”, declarou o presidente catalão destituído, Carles Puigdemont, na reunião que teve, ontem, com Torra em Berlim.
O primeiro ato do presidente eleito da Generalitat da Catalunha, Quim Torra, depois de ser investido pelo parlamento foi visitar o seu antecessor, que considera “o presidente legítimo da Catalunha”, para lançarem, em conjunto, um apelo para que o governo da Moncloa dialogue com os catalães. “Sr. Rajoy, marque dia e hora para o encontro”, disse Torra, insistindo que “o primeiro objetivo do novo governo é oferecer um diálogo franco e aberto com o governo espanhol” e sublinhando que a questão catalã não terá soluções repressivas e judiciais, mas apenas uma solução política. Rajoy já fez saber que aceita reunir-se com Torra, mas que esse diálogo só será feito “dentro da lei”.
A tomada de posse de Quim Torra será organizada pelo governo espanhol e seguirá, segundo fontes deste citadas por “El Periódico”, o “modelo constitucional”. As citadas fontes não descartaram a presença na cerimónia de membros do governo de Espanha. Até que o governo da Catalunha tome posse, Torra “estará sob supervisão do governo central” e não terá autonomia, considerando-se que a direção da Generalitat continua nas mãos do governo espanhol até, segundo afirmam estas fontes governamentais, o novo executivo da Catalunha se comprometer a respeitar a legalidade vigente em Espanha. Os independentistas podem concorrer às eleições, ganhar os sufrágios, tomar posse como governantes, desde que não façam nada para cumprir o programa com que foram eleitos.
O governo espanhol vai exigir que Quim Torra declare acatar o Estatuto e a Constituição espanhola, abrindo a possibilidade de que diga que o faz “por imperativo legal”.
O presidente eleito já se manifestou contra a organização e condicionamento pelo governo espanhol da sua tomada de posse, embora tenha confirmado ter recebido uma mensagem do governo de Madrid a dizer que tinha de ser assim. “Nós queremos um tipo de ato diferente, íntimo, discreto, com gestos simbólicos que nos permitam demonstrar a situação de excecionalidade e de tristeza que vivemos” pela prisão e exílio de dirigentes, afirmou o presidente eleito da Catalunha.
Para tornar mais forte a ameaça sobre o novo governo da Catalunha, Mariano Rajoy e Pedro Sánchez reuniram-se durante 40 minutos, na terça-feira, para demonstrarem a sua unidade de pontos de vista sobre o assunto e declararem que, se os independentistas persistirem na intenção de cumprir o seu programa eleitoral, seria aplicado um artigo 155 muito mais “contundente” que o que está em vigor, e que a suspensão da autonomia da Catalunha seria um facto permanente ou, pelo menos, muito mais durável. Sobre conversações, soluções políticas e libertação dos ministros do antigo governo catalão, os dois políticos não disseram nada de nada.