Dezenas de inspetores da Polícia Judiciária do Porto viajaram até Lisboa para levar a cabo ontem diversas buscas no Estádio José Alvalade e em algumas habitações por suspeitas de compra de resultados na primeira liga de futebol e no campeonato nacional de andebol. Antes disso, sabe o i, já tinham sido várias as diligências que os inspetores da Judiciária, longe dos holofotes, tinham realizado na capital, onde quase tudo aconteceu.
“Há uma investigação que já decorria há meses e há sempre diligências a decorrer continuamente. É em Lisboa que os factos se desenrolaram e os trabalhos são feitos onde os factos acontecem”, explicou ao i fonte próxima do processo.
No caso do andebol, Paulo Silva, um dos intermediários do alegado esquema, contou o que sabia e terá mesmo aceitado entregar o seu telemóvel ao Ministério Público para que fossem feitas diligências. É nesse aparelho que constarão diversas mensagens trocadas com um elemento alegadamente ligado ao Sporting, e das quais resulta que foi posto em marcha um plano para subornar árbitros. De acordo com as mensagens, no comando estaria André Geraldes, atual diretor de futebol do Sporting. Além destes dois suspeitos foram ontem detidos João Gonçalves, também intermediário, e Gonçalo Rodrigues, braço direito de Geraldes. Todos suspeitos do crime de corrupção ativa no desporto.
Mas o esquema não se centrava no andebol: o objetivo do Sporting era ganhar em várias modalidades, entre as quais o futebol (ver quais os jogos sob suspeita nas págs. seguintes). Ao i, fonte próxima da investigação garante que o “modus operandi era idêntico”, sendo os subornos pagos aos jogadores da equipa adversária.
Investigação longe do fim Depois de horas e horas de diligências, os inspetores da PJ do Porto recolheram ontem documentação muito relevante para esta investigação. Segundo o i apurou, as buscas foram mesmo consideradas “bastante produtivas” para o desenrolar de uma investigação que está longe de ter terminado.
No clube de Alvalade as diligências centraram-se no local de trabalho dos suspeitos, ou seja, de André Geraldes e Gonçalo Rodrigues, que entretanto já tinha deixado o clube após as primeiras notícias sobre o caso.
A Polícia Judiciária confirmou oficialmente as buscas, referindo que a denominada Operação “Cashball” se trata de uma investigação “dirigida pelo Ministério Público – DIAP do Porto” e que levou à detenção de quatro pessoas. “A operação, que envolveu quarenta elementos da Polícia Judiciária, incluiu cerca de uma dezena de buscas domiciliárias e em clube desportivo”, adiantou ainda a mesma fonte.
Num comunicado oficial, o Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) do Porto acrescenta aos crimes sob investigação a corrupção passiva, ilícitos cometidos por quem terá recebido os alegados subornos. Mas até ao fecho desta edição não tinham sido constituídos arguidos ou detidos quaisquer árbitros ou jogadores.
O Ministério Público referiu ainda que vai apresentar “os detidos a primeiro interrogatório judicial, promovendo a aplicação de medidas de coação” – o que terá de acontecer nas próximas horas.
O Sporting também reagiu às notícias, reconhecendo que dois dos arguidos estão ligados ao clube. “O Sporting Clube de Portugal confirma que foram realizadas buscas nas instalações do clube, no âmbito de uma investigação que se encontra em segredo de justiça. O Sporting Clube de Portugal confirma ainda que dois colaboradores foram constituídos arguidos”, refere uma nota dos verdes e brancos.
Benfica e Porto reagem O Benfica reagiu ontem às suspeitas de compra de resultados, dizendo que está a acompanhar o caso, aguardando, no entanto, o desenrolar dos trabalhos.
Os encarnados aproveitaram ainda assim para “realçar que a omissão e o silêncio de todas as autoridades sobre o grave crime de roubo da correspondência privada do SLB, e a sua pública divulgação através de um pretenso porta-voz, terão certamente contribuído para afirmação de um clima de total impunidade e de errada perceção de que o crime compensa”.
A posição do Benfica mereceu uma resposta do FC Porto, em que se “reafirma que o caso dos e-mails é de toda a evidência péssimo para o futebol e o desporto português em geral, não pelo modo como foi divulgado ou pela forma como foram obtidas as informações, mas sim pelos indícios criminosos que os conteúdos desses mesmos e-mails contêm”.