A vitória de João Sousa no Millennium Estoril Open (MEO) foi o momento mais alto da história do ténis português.
Foi único e vivi-o de perto. Ter cocomentado a final na TVI24 ligou-me de alguma forma ao enorme triunfo do ‘Conquistador’ de Guimarães. Foi um privilégio.
João Sousa merece entrar para história do ténis nacional por este triunfo, até porque se tem muitos fãs, desperta também muitas invejas, antagonismos e antipatias que nunca percebi, por tratar-se de um rapaz de elevada formação e educação fora do court.
Não me admirei por Frances Tiafoe dizer antes da final que o n.º 1 português «é um dos tipos mais simpáticos do circuito» e também «um dos mais trabalhadores». Quem o conhece sabe que é verdade.
O mesmo pode dizer-se de Frederico Marques. Nos maus momentos desportivos de João Sousa, oiço sempre vozes clamarem pela necessidade do João despedir o Frederico e contratar outro treinador.
Não conheço detalhadamente o trabalho quotidiano que fazem, mas respondo que alguma coisa de bem devem fazer para o vimaranense ter chegado a 28.º do ranking mundial e a 10 finais do ATP World Tour, três das quais vitoriosas.
É um palmarés notável para um jogador que está longe de ser um poço de talento, mas que exala ambição e força de vontade por todos os poros desde miúdo.
Tudo isto não me impede, contudo, de constatar que João Sousa soube aproveitar um quadro excecional, que lhe permitiu defrontar quase exclusivamente jogadores muito jovens.
Jovens de grande qualidade é certo, futuras estrelas quase seguro, mas todos eles vulneráveis em dado momento à pressão do público.
Tiafoe, de 20 anos, admitiu que a sua derrota começou logo quando ouviu o hino espontaneamente cantado nas bancadas ainda antes da final começar.
Stefanos Tsitsipas, de 19 anos, enterrou-se em duplas no tie-break de terceiro set da meia-final.
Kyle Edmund, de 23 anos, desapareceu mentalmente naquele terceiro set de 6-0 nos quartos de final, quase uma birra de menino grande.
E Daniil Medvedev, de 22 anos, desperdiçou vantagens preciosas em ambos os sets da primeira ronda, que um veterano poderia ter aproveitado de outra forma.
Só Pedro Sousa, nos oitavos de final, apresentou outra veterania nos seus 29 anos, os mesmos de João Sousa, e esteve prestes a batê-lo, dispondo de dois match-points.
No MEO de 2018, João Sousa foi um tomba-gigantes de jovens talentos do ATP World Tour.
Tal como Richard Gasquet na final de 2015 frente a Nick Kyrgios, e tal como Nico Almagro na final de 2016 frente a Pablo Carreño, também em 2018 João Sousa fez a experiência falar mais alto.