Com mais de oito mil organismos, entre animais e plantas, de mais de 500 espécies diferentes, o Oceanário de Lisboa permite-nos fazer uma viagem ao mundo subaquático. Àquilo que os olhos veem junta-se o que os ouvidos captam. A visita aos vários aquários é sempre acompanhada por sons que nos remetem para os diferentes habitats que vamos conhecendo. Foi neste ambiente que o i falou com João Falcato, CEO do Oceanário de Lisboa, sobre a celebração dos 20 anos de existência do aquário.
Inaugurado em 1998 com a Expo – cujo tema foi “Os oceanos, um património para o futuro” –, o Oceanário eternizou a ligação de Lisboa com o oceano e tornou-se um dos espaços culturais mais emblemáticos da cidade. “Além do objetivo de trazer o mar de volta a Portugal, a ideia era também reformular toda uma área da cidade. Esses dois objetivos, em conjunto, passavam muito pelo equipamento do oceanário”, conta João Falcato.
De acordo com o biólogo marinho – que acompanhou o projeto do oceanário desde o início –, quando se pensou em revitalizar a área do agora chamado Parque das Nações concluiu-se que era necessário construir um equipamento que fizesse o pós-Expo funcionar, continuando a trazer visitantes todos os dias. O Oceanário nasceu também com esse propósito e, para João Falcato, o objetivo foi cumprido. “Foi um grande sucesso. Fechámos durante 15 dias (depois de a Expo terminar), voltámos a abrir e tivemos logo mais de um milhão de visitantes no primeiro ano. Isso fez com que toda esta área nunca morresse e tornou a Expo em Portugal, do que eu sei, o maior sucesso histórico. Não há nenhuma Expo que tenha tido tanto sucesso no pós-Expo. A estratégia de criar um equipamento que trouxesse a esta zona da cidade muita gente e revitalizasse a vida aqui funcionou”, explica.
João Falcato conta que o início foi um grande desafio e teve as dificuldades inerentes à construção de um projeto desta dimensão. “Os desafios passaram, por exemplo, pelo transporte dos animais, como um tubarão que está cá desde 1998 e já era grande. Agora está só um bocadinho maior. Pensámos: ‘Como é que eu o trago do outro lado do mundo?’ Era preciso ter em conta toda a tecnologia e todas as ferramentas necessárias para que o transporte corresse bem, para que os animais estivessem bem e para que o seu bem-estar estivesse garantido”, descreve o CEO.
Seis meses antes da abertura foram postos os primeiros peixes no aquário do Oceanário de Lisboa, algo que João Falcato afirma que não aconteceu nos outros projetos deste tipo espalhados pelo mundo. O CEO refere que foi tudo muito bem planeado na criação do Oceanário de Lisboa e que o bom funcionamento se mantém. “Hoje olhamos para estes animais e estão perfeitos. Passados 20 anos, estão aqui extremamente saudáveis e com comportamentos completamente naturais. Toda a planificação para trazer para aqui um ecossistema novo e trazer animais dos quatro oceanos para que o público que nos visita possa perceber a beleza que existe debaixo de água funcionou muito bem”, afirma.
Turismo O oceanário tem um papel importante no panorama turístico da cidade de Lisboa. Cerca de 60 a 70% dos visitantes do oceanário são turistas e 27% dos turistas que vêm à capital visitam o oceanário. Segundo João Falcato, o oceanário sempre foi mais visitado por estrangeiros do que por portugueses.
Atualmente está prestes a atingir o patamar dos 23 milhões de visitantes e é considerado pelo site Trip Advisor o melhor aquário do mundo. “É um equipamento que honra a cidade. Sendo considerado o melhor aquário do mundo, acho que contribui para um aumento da qualidade e reconhecimento da oferta turística da cidade. Contribui também, eventualmente, para que visitem a nossa cidade por ser considerado um equipamento que é muito bom e que se ajusta a todas as idades e que, para além de nos divertir, envolver e emocionar, nos ensina a contribuir para um mundo melhor amanhã”, refere o CEO.
Conservação dos oceanos Depois das infraestruturas construídas e das várias espécies adquiridas – apesar de continuarem sempre em busca de novos animais que “tenham uma história para contar” –, a principal missão do oceanário baseia-se agora na literacia azul e na preservação dos oceanos. “Não faria sentido um equipamento deste género existir sem ter essa missão e esse objetivo final”, explica João Falcato.
Para isso usam ferramentas como a sensibilização do público que visita o Oceanário de Lisboa e promovem um programa educativo ambiental. “Temos de tocar cada vez mais gente e temos de ter cada vez mais visitantes para lhes mostrar como é bonito o mar, como é importante garantir que esta beleza e estes recursos se mantêm para o futuro. Para além disso, temos um programa educativo que julgo ser o maior programa educativo do país a nível ambiental. O ano passado chegámos a 168 mil crianças e adultos com o nosso programa educativo”, refere o biólogo marinho.
Este ano, o oceanário está ainda a desen-volver um projeto de educação ambiental em movimento que promove atividades lúdico-pedagógicas gratuitas “fora de portas”. O “Vaivém Oceanário” já visitou mais de 200 municípios de todos os distritos de Portugal continental e regiões autónomas, com impacte em mais de 240 mil pessoas.
Depois, atuam também no terreno. João Falcato considera que é importante não se focarem apenas no principal problema – que somos nós, os seres humanos –, educando e sensibilizando, mas também atuar diretamente nos oceanos. “É fundamental ir para o oceano tentar contribuir para que algumas espécies sejam conservadas e continuem a existir no nosso planeta quando estão em risco. É isso que temos vindo a fazer, financiando inúmeros projetos normalmente desenvolvidos por universidades. São elas que vão para o terreno, financiadas e desafiadas por nós, para desenvolver alguns projetos. No ano passado financiámos alguns relacionados com tubarões e raias, mas desde 2007 que financiamos muitos projetos de tartarugas-marinhas, peixes-lua e tubarões. De certeza que hoje há muitos animais que estão a nadar nos oceanos porque nós existimos”, explica.
Para o futuro, há uma grande ambição. João Falcato afirma que, desde que a Fundação Oceano Azul adquiriu o oceanário, em 2015, a capacidade de atuação nos oceanos é completamente diferente do passado. “Atualmente, todas as nossas receitas e todos os nossos lucros são aplicados 100% na conservação dos oceanos e na literacia azul, o que não era a realidade quando éramos um equipamento público. Nessa altura, os nossos resultados eram distribuídos em dividendos. Hoje são totalmente aplicados na conservação, ou seja, estamos a iniciar – começámos em 2016 – um novo percurso com uma capacidade de atuação, fora daqui, muito superior”, refere.