A liberdade de voto que alguns partidos já anunciaram para a votação do próximo dia 29, quando se discute as propostas sobre a eutanásia, "nem sequer se coloca” no CDS. “Todos os deputados são contra e, portanto, há uma unanimidade de pensamento nesta matéria”, disse ao i, Assunção Cristas.
A líder centrista não percebe o porquê da urgência em legislar esta temática e acredita que este assunto é “um interesse específico de alguns grupos políticos, de alguns partidos que conseguem arrastar consigo outros”. “Mas acho que não corresponde ao sentimento geral da sociedade portuguesa que não vê nisto uma grande prioridade”, explicou acrescentando que “não se vê nenhum clamor social a pedir para se legislar nesta matéria”.
O tema da eutanásia foi antecipado ontem pela líder do CDS no discurso de encerramento das jornadas parlamentares do partido, uma semana antes do debate. “Uma lei que trata simplesmente de criar no SNS – aquele Serviço Nacional de Saúde que queremos desenvolver e acarinhar para tratar as pessoas e dar qualidade de vida até ao fim dos seus dias – se prepara para passar a ter uma nova prestação, que já não é tratar, já não é tirar a dor, é antecipar a morte, é executar a morte. Isso nós não aceitamos, nem achamos admissível”, disse Cristas no discurso.
“Nós entendemos que deve haver uma alternativa que deve ser dada às pessoas”, acrescentou ao i. “Somos contra a eutanásia – que é a execução e antecipação da morte –, somos contra o prolongamento desproporcionado da vida – a chamada distanásia – como somos contra a obstinação terapêutica”, que resulta de tratamentos “que são fúteis, desproporcionados, que não vão levar à cura e que na verdade acabam por ser um grande incómodo” para os pacientes, explicou.
Quando questionada sobre a liberdade individual da pessoa escolher pôr termo à sua vida, Assunção Cristas defendeu que “quando alguém põe a sua decisão nas mãos de outro para outro executar” está “a extravasar os seus direitos”. “Não se trata de liberdade individual, trata-se de querer ter um enquadramento legal e uma institucionalização de um direito a decidir morrer e que outro execute a morte por si.”
Para a líder centrista, o exemplo de outros países que legalizaram a morte assistida – como a Bélgica e, principalmente, a Holanda – devem ser tidos em conta na decisão portuguesa. “São experiências muito negativas porque começaram com situações circunscritas e muitas pessoas a defenderem [o recurso à eutanásia] só em casos extremos e, neste momento, temos um número de eutanásias enorme, a crescer ao mesmo tempo que cresce o suicídio”, argumentou recusando a premissa de que com a legalização da eutanásia as pessoas não terão de recorrer ao suicídio.