Amanhã no Hard Club e sábado no Coliseu dos Recreios, os Vetusta Morla voltam ao lugar onde têm sido felizes. O mesmo sítio, novas questões por responder. A busca continua.
‘Mismo Sitio, Distinto Lugar’, o álbum que vêm mostrar aos coliseus, são os Vetusta Morla a questionar o conforto adquirido?
Juan Manuel Latorre (teclista)Ž- Há uma sensação de partida. A grande diferença para os álbuns anteriores é não ser uma viagem física mas a busca por uma espécie de lugar do momento atual. Todos já passámos por um momento na vida em que na nossa casa, numa relação ou no trabalho, precisamos de questionar o que somos. Pode ser algo novo, uma identidade diferente que reflita o momento. Essa viagem pode ser exterior, ou interior, mas procura essa nova personalidade. Quando tentamos mudar, surge a dúvida e o confronto connosco ou com os outros. O disco acaba por ser o reencontro com um lugar novo.
Cada álbum é uma fotografia do momento. Quem são aqui e agora?
JML – Acho que continuamos a ser os mesmos nesse processo de transformação. A maior revelação deste disco é a procura ser o nosso estado natural. A mesma fotografia, um ano diferente (risos).
Como é que uma banda de rock que trabalha sobre sons familiares se reinventa?
JML – O primeiro desafio foi esquecermo-nos dos papéis habituais de cada um. Em parte, não totalmente, da forma como nos relacionamos com os instrumentos e como tocamos. O nosso processo normal era juntarmo-nos na sala de ensaios e trabalharmos as canções até estarem prontas. A seguir, íamos para estúdio e gravávamos. Desta vez, as canções soavam de forma diferente. Confiámos a produção ao Dave Fridmann [Mercury Rev, Flaming Lips, MGMT]. Desta vez, não fechámos o disco antes de o gravarmos. Foi muito difícil porque não estávamos habituados a trabalhar dessa forma. Essa foi uma das grandes transformações e tivemos medo…Por outro lado, permitiu-nos chegar onde nunca tínhamos estado. No Hansa [mítico estúdio onde David Bowie, Iggy Pop e, mais tarde, os U2 gravaram os álbuns da fase berlinense] tivemos acesso a amplificadores e instrumentos de que só tínhamos ouvido falar.
Foram à procura dessa história?
JML – Há uma aura inexplicável no estúdio mas não o escolhemos por esse motivo. Só depois é que descobrimos a história e quisemos absorvê-la no álbum.
P – A grandeza do Dave não é só musical, é também humana. Ele sempre trabalhou discos muito variados e nós tínhamos em mãos um álbum muito complicado com canções em que se passavam muitas coisas ao mesmo tempo. A primeira coisa que nos perguntou, em Nova Iorque, foi pelas nossas referências. Respondemos-lhe que não tínhamos. Estávamos ali por ele e pela visão pessoal dele.
JML – Queríamos trabalhar com alguém que nos conhecesse. Que escutasse a música e nos encarasse por quem somos e pelo que valemos. Daí não ser um produtor espanhol.
À exceção dos La Frontera e dos Heroes Del Silencio, a relação entre bandas rock espanholas e Portugal é distante. Estão a vencer esse bloqueio?
JML – De facto, não há muitas bandas espanholas a vingar em Portugal mas para nós é um país irmão. Devíamos ser mais próximos. Temos uma longa história em comum, e é uma pena que não haja mais comunicação entre os dois países. É verdade que o idioma pode ser um problema para uma banda rock – não o é no fado ou no flamenco. Sei que é difícil mas estamos empenhados em fazê-lo. Aqui, somos muito acarinhados pelo público e pelos meios. Em Portugal, as pessoas respeitam o valor da música.