De cada vez que vamos fazer uma grande obra pública, lembramos os descobrimentos e a epopeia marítima.
Pode ser o Centro Cultural de Belém, a Ponte Vasco da Gama, a Expo 98 ou o Euro 2004.
O país entra em catarse coletiva e recuamos quinhentos anos ao tempo das caravelas. Há os crónicos otimistas que só anteveem grandes feitos de pimenta e ouro, há os crónicos pessimistas que anunciam que vamos ao fundo à saída da barra, sendo que os primeiros acusam os segundos de serem velhos do Restelo.
A verdade é que temos razões para o otimismo e para o pessimismo. O Centro Cultural de Belém foi um sucesso tremendo, mau grado as dúvidas iniciais de toda a espécie; da mesma forma que o Euro 2004 foi um monumental fiasco, com custos financeiros insuportáveis e estádios abandonados.
A Expo 98, justamente por ser dedicada aos oceanos, feita à beira-rio, foi a obra que mais diretamente excitou a mente coletiva no sentido de recordar essa grandeza do passado e dos descobrimentos.
Ao mesmo tempo que fazia uma exposição mundial, Lisboa aproveitava para resolver urbanisticamente aquela parte da cidade, outrora abandonada e tóxica.
Com alguns edifícios âncora, como o Oceanário, o Pavilhão de Portugal ou Pavilhão da Utopia (hoje Altice Arena) a serem grandes polos de fixação e visita, a Expo 98 foi um tremendo sucesso.
Era uma exposição com centenas de pavilhões dos países respetivos, em que cada visitante, munido do seu passaporte, recolhia o carimbo de passagem simbólica por tantos países do mundo, exóticos e distantes. Presumo que ainda haja para aí muitos passaportes desses guardados no fundo das gavetas.
Para além da exposição e dos edifícios de raiz, fizeram-se milhares de apartamentos, para onde se mudaram outras tantas famílias, cheias de entusiasmo.
Aquela zona tornou-se em 2013 (depois da reforma administrativa) uma nova freguesia, o Parque das Nações, agora uma das maiores e mais populosas da capital.
Os moradores queixam-se, e com razão, da falta de infraestruturas, sobretudo do centro de saúde, sempre prometido e nunca feito, e da falta de escolas. Estas são as principais carências, são fortes e justificavam da Câmara e do Governo outra atitude.
Houve óbvios problemas administrativos e financeiros que subsistiram estes vinte anos, muito para além do aceitável.
Pela minha parte, sei bem quando é que me caiu no goto: sentada num banco de cartão numa longa espera para entrar no Pavilhão de Portugal, vi bem a gigante pala curva de Siza Vieira. E é impossível não amar aquilo.
É urgente dar destino ao Pavilhão de Portugal, é urgente resolver as questões das infraestruturas, mas é inegável o tremendo sucesso que foi recriar aquele pedaço de cidade à beira-Tejo.
sofiarocha@sol.pt