A controvérsia em torno do Museu das Descobertas apanhou Fernando Medina de surpresa. A ideia de criar na capital este espaço é uma proposta inscrita no programa para o presente mandato na Câmara de Lisboa, mas Medina não contava com o braço-de-ferro de quem agora considera o nome ‘Museu das Descobertas’ um erro de perspetiva. O SOL sabe que a polémica que se instalou em torno do assunto obrigou a colocar outras hipóteses em cima da mesa e, ao que tudo indica, o espaço vai chamar-se ‘A Viagem’.
«A preocupação era mostrar o que foram as descobertas marítimas, o que é que os portugueses encontraram quando chegaram à Índia, por exemplo, o que lá deixaram e o que trouxeram. Era para ser na Ribeira das Naus e ter como peça principal uma réplica de uma caravela em tamanho aumentado. Mas esta polémica toda mudou tudo, até porque não é de todo um museu a favor do colonialismo», começa por dizer fonte próxima de Fernando Medina, acrescentando que «vai então ter outro nome e outra localização. Vai ficar entre o Jardim do Tabaco e o cais dos paquetes».
Na origem de toda a controvérsia está, sobretudo, o fantasma dos Descobrimentos. J. P. Oliveira e Costa, um dos signatários da carta que originou a discussão, começou, desde cedo, a falar em «disputa ideológica entre a esquerda e a direita». Mas afinal o que está em questão?
A carta começava com uma pergunta: «Porque é que um museu dedicado à ‘Expansão’ portuguesa e aos processos que desencadeou não pode nem deve chamar-se ‘Museu das Descobertas’?». A resposta foi dada através de um conjunto de argumentos de caráter científico e ideológico. «Para os não europeus, a ideia de que foram ‘descobertos’ é problemática», defendia o texto que apontava também ‘Descobertas’ como sendo «uma expressão obsoleta, incorreta, e carregada de sentidos equívocos».
Para João Paulo Oliveira e Costa, nem a colagem da palavra ‘Descobertas’ ao Estado Novo faz sentido. É «um exagero» e é «ridícula». «Basta lembrar que, já quando D. João V enviou a embaixada a Roma, no início do século XVIII, as imagens que iam nos coches eram o Ganges e o Adamastor. Desde D. João V, pelo menos, que Portugal se apresenta ao mundo como país dos Descobrimentos», refere.
Vários nomes juntaram-se, entretanto, contra e a favor. Por um lado, há uma petição que defende o nome ‘Museu das Descobertas’ e, por outro, vários agentes culturais que decidiram juntar a voz à carta pública assinada por vários cientistas sociais.
Discussões à parte, sejam elas políticas ou ideológicas, o museu já tem, ao que tudo indica, novo nome e nova localização prevista.