Não sei quem foi a primeira criança de grande coração que convidou a turma inteira para a sua festa de aniversário, mas tenho de lhe agradecer todos os fins-de-semana que ficam condicionados por festas de amigos ou conhecidos dos meus filhos. E não são poucos.
Consigo lembrar-me de todas as festas a que fui quando era criança, porque na altura convidávamos os amigos e não a comunidade. Eram tardes especiais em que estávamos juntos fora da escola. Sentíamo-nos mais próximos e ficávamos a conhecer as famílias uns dos outros. Na altura as festas faziam-se sobretudo em casa, no jardim zoológico ou num parque. Os mais velhos organizavam os jogos ou deixavam-nos simplesmente a brincar como nos apetecesse.
Hoje em dia os pais organizam festas para os filhos desde os três anos e convidam a turma toda. Geralmente escolhem sítios fechados que se dedicam a este rentável negócio e os convites são feitos aos magotes, até porque é exigido um número mínimo de participantes. As festas em casa já eram. Agora as crianças têm de estar entretidas a 100%. Não é permitido estar sentado ou sem saber o que fazer. Têm de saltar em trampolins, fazer pizzas, viver histórias de princesas em palácios onde já viveram reis de verdade, mergulhar em piscinas de bolas, disparar raios laser, andar num autocarro com um parque infantil no interior e no fim comer até rebentar. Qualquer coisa que garanta duas horas de êxtase e sem dar muito trabalho aos pais é a festa ideal. O preocupante é que a exigência dos filhos é galopante e daqui a uns anos tudo o que não seja ir à Lua dar uns pulos será por eles considerado entediante.
Para os pais é que as festas começam a ser um problema. Porque passam os fins-de-semana que tinham para descansar e estar em família de chapéu de motorista – cá em casa já houve fins-de-semana com quatro festas! Gastam meia fortuna em presentes muitas vezes para crianças que nem sabem de quem eles são e a outra metade na festa dos filhos quando chega a sua vez.
Já há escolas que para minimizar os gastos de tempo e dinheiro reúnem todos os aniversariantes do mês numa única festa e o presente é um saco de dinheiro para o qual todos contribuem. Será também uma forma de não haver meninos que não são convidados ou ficam sem festa, mas perdem o gozo de ter uma festa sua, com presentes que vão chegando daqui e dali. De qualquer forma agora já nem há tempo a perder com os presentes: são deixados para o fim ou levados para casa e abertos em série sem a pessoa que ofereceu por perto.
Este sábado tenho a festa de aniversário de uma grande amiga. Lembro-me bem de quando fez 11 anos. Comemorámos em casa da avó e passámos a tarde a brincar no parque de estacionamento descoberto, sobretudo a trepar e escorregar por um VW Carocha (espero que estivesse abandonado…) e num corrimão exterior do prédio. Lembro-me também de haver palhinhas que mudavam de cor com as bebidas frias. Ainda temos fotografias desse dia, que ficarão para a posteridade, tal como a amizade que nos une. Porque os amigos, tal como as festas, não têm de ser imensos, têm é de ser especiais.