Mamoudou Gassama, o jovem maliano que no fim de semana resgatou de forma espetacular uma criança pendurada numa varanda de Paris, recebeu das mãos de Emmanuel Macron uma medalha pelo seu heroísmo, assim como a autorização de residência e trabalho que há muito procurava. O governo francês ofereceu também ontem a Gassama um emprego nos serviços de resgate e combate aos incêndios de Paris e a promessa de que será naturalizado o mais rapidamente possível. O próprio ministro do Interior, Gérard Collomb, assegurou-o.
A celebridade do resgate – Gassama escalou varanda atrás de varanda até a um quarto andar, onde agarrou uma criança pendurada e prestes a cair à rua – sublinha o marasmo no qual vivem milhares de imigrantes africanos sem autorização de residência em França. O irmão de Gassama, Diaby, afirmou-o ontem aos jornalistas no Eliseu, onde o irmão se encontrou com Macron. “Queremos ser oficializados”, afirmou, respondendo a uma pergunta inicialmente dirigida ao irmão sobre se tinha alguma coisa a pedir ao presidente. “Não temos documentos, mas queremo-los para podermos trabalhar em boas condições – e precisamos de casas “, prosseguiu, aparentemente falando pela comunidade africana imigrante.
O heroísmo de Gassama pôs também a descoberto o fosso político francês. Nicolas Bay, da Frente Nacional, disse que só não se importaria com a cidadania de Gassama caso “expulsemos os outros”. O documentarista Raphaël Glucksmann adota a via contrária: “Como qualquer outra pessoa, admiro a coragem de Mamoudou Gassama. Mas sonho com um país onde não é necessário a um imigrante pôr a vida em risco, e escalar um edifício para salvar uma criança, para que seja tratado como um ser humano.”