Reduzir o plástico, um copo e uma palhinha de cada vez

Bruxelas apresentou ontem um conjunto de medidas para reduzir significativamente a utilização do plásticos descartáveis. Por cá, a junta de freguesia de Cascais e Estoril decidiu aderir ao Movimento Claro Cascais e já aboliu palhinhas e outros plásticos descartáveis. A ideia é de sensibilizar a população para mudar comportamentos

O plástico está presente em quase tudo: telemóvel, cartões, garrafas, sacos, palhinhas, computador, entre outros. A lista é longa e bem se tenta arranjar alternativas, mas parece impossível escapar. Ciente dos perigos e malefícios que o plástico tem para o meio ambiente, a junta de freguesia de Cascais e Estoril decidiu abolir a sua utilização nos seus serviços, ao aderir ao Movimento Claro Cascais, fruto do trabalho de três amigas que querem mudar o rumo da vila e deixar de prejudicar a natureza.

Numa altura em que a Comissão Europeia apresentou algumas medidas para reduzir a poluição no mar, esta é uma das iniciativas já em curso em Portugal. Em Bruxelas, os planos são ambiciosos: cotonetes, palhinhas, talheres, pratos e outros objetos de plástico descartável serão proibidos e, caso existam alternativas acessíveis em termos de preço, estes produtos serão banidos do mercado. As medidas ditam ainda que todos os países membros da UE serão obrigados a recolher 90% das garrafas de bebidas de plásticos, isto num horizonte temporal até 2025.

A proposta da Comissão já foi entregue ao Parlamento Europeu, que apela a que o diploma tenha caráter prioritário e que os resultados se tornem visíveis antes das eleições de maio de 2019.

Começar a fazer a diferença Para Luísa Mandacaru, Carolina Gonçalves e Teresa Alves, as fundadoras do Movimento Cascais Claro, a necessidade de mudar alguma coisa tornou-se incontornável.

Luísa e Carolina passavam muito tempo na praia e foi aí que surgiu a ideia do projeto. Conscientes de que o plástico é cada vez mais um problema que precisa de ser resolvido rapidamente pensaram na criação do movimento. “Um dia disse que se chegasse aos 80 anos sem ter feito alguma coisa para ajudar a resolver este problema, que então não tinha cumprido um objetivo importante para mim”, explica Luísa, acrescentando que Carolina concordou com a ideia e, a partir daí, começaram a “pensar ativamente no que podia ser feito”. “A Teresa Vale juntou-se a nós e começámos”, completou.

O movimento começou por um primeiro passo: a abolição das palhinhas. Porquê? “São de muito difícil reciclagem, voam muito facilmente para o mar e no fundo não são essenciais à nossa existência, é um luxo que faz muita diferença”.

Para além disso, são os “itens mais encontrados nas praias”, constataram. E depois, os números falam por si: “Demoram um minuto a serem produzidas, são usadas durante 10 minutos e demoram cerca de 200 anos a decompor-se”.

Até ao momento, o projeto conta com o apoio de 17 membros, entre os quais restaurantes, cafés e festivais que se comprometeram a deixar de servir bebidas com palhinhas. E qualquer pessoa pode aderir a este projeto. Segundo Luísa, “o primeiro passo é começar a pedir as bebidas sem palhinha e partilhar com os amigos e família o porquê desta mudança”.

No fundo a ideia do movimento é “alertar a população para o consumo de plástico desnecessário e para a reavaliação de prioridades no que toca ao consumo”. Não é só a junta de Cascais e Estoril que está interessada em mudar de atitude, também a junta de Lordelo do Ouro e Massarelos, no Porto, e a junta de Carcavelos estão a pensar em aderir a esta iniciativa. E como se não bastasse o sucesso que o projeto tem tido na vila de Cascais, com vários restaurantes e cafés a tornarem-se membros, as criadoras têm também “recebido pedidos de Sintra e Ericeira [por parte de civis] que querem levar a campanha para lá”.

Do lado autárquico, tudo faz sentido. “A Junta quer ser amiga do ambiente, juntamente com toda a comunidade de Cascais e Estoril”, explica Pedro Morais Soares, presidente da junta de freguesia de Cascais e Estoril.

O presidente da junta sublinha que a freguesia decidiu aderir depois de lhes ter sido apresentada a ideia: “Achámos que esta junta devia dar o exemplo e proibir a utilização das palhinhas e dos plásticos em geral, não se pode fechar os olhos às questões ambientais, o exemplo tem que partir dos organismos públicos”.

A entidade decidiu ir mais além e proibir não só as palhinhas mas todos os plásticos descartáveis nos seus serviços. Tudo começou depois de terem conhecimento de que em Portugal, por ano, segundo dados da Quercus, são utilizadas, em média, 721 milhões de garrafas de plástico, 259 milhões de copos de café e 40 milhões de embalagens de fast food, que acabam por poder ir parar ao mar. Desde que aderiram ao movimento, já foram implementadas várias medidas. “Temos 12 escolas com bandeira eco escolas”, referiu o responsável, acrescentando que no passado dia 11 de maio, a propósito da Semana do Voluntariado Jovem, cerca de 2000 jovens realizaram algumas iniciativas para melhorar a freguesia, como a recolha de plásticos nas praias. E, para dar o exemplo, nessa iniciativa as habituais 10 mil garrafas de plásticos foram substituídas por 3 mil cantis.

Plástico é o grande inimigo? O plástico pode durar entre 200 a 500 anos e o uso abusivo deste material está a transformar o planeta.

De acordo com Carmen Lima, responsável pelo Centro de Informação dos Resíduos da Quercus, existem 80 mil toneladas de plástico a flutuar nos oceanos, muitos em forma de microplásticos, que se infiltram na rede de esgotos. Como “são demasiado pequenos” para serem filtrados pelos sistemas de tratamento, acabam por ir para aos rios e para o mar, chegando até aos humanos através da cadeia alimentar. “Como entram na cadeia alimentar dos animais, entram na cadeia alimentar dos humanos, podendo colocar a nossa saúde em risco”, alerta a especialista.

Carmen concorda com a ideia de que criar legislação sobre a utilização de produtos descartáveis em plástico, limitar a distribuição gratuita de produtos de utilização única, promover o uso de produtos em plástico reutilizável – como por exemplo os copos para grandes eventos como concertos e festivais – é o caminho a seguir. É preciso “mudar comportamentos, tentarmos escolher soluções que sejam passíveis de serem reutilizáveis e principalmente enviarmos estes resíduos para a reciclagem”, diz.

Apesar de este problema estar longe de estar resolvido, a junta de Cascais e Estoril relembra que qualquer gesto, por muito pequeno que seja, é sempre um passo importante em direção à mudança. Na capital, a revolução começa este Santo António. Este ano a autarquia anunciou que as Festas de Lisboa, assim como os futuros grandes eventos da cidade, vão deixar de oferecer copos de plástico descartáveis. “Não será possível ainda em toda a cidade, porque os arraiais são imensos e espalham-se por toda a cidade, mas em todas as organizações de concertos em espaços organizados, será esse o método utilizado”, explicou Fernando Medina.