Hoje será o primeiro dia do resto da vida de Mariano Rajoy. O presidente do governo espanhol recusou-se até ao fim a apresentar a sua demissão, mesmo depois de o Partido Nacionalista Basco (PNV na sigla em espanhol) anunciar a sua decisão de apoiar a moção de censura apresentada pelo Partido Socialista (PSOE) e tornar quase um pró-forma a votação de hoje.
Na tarde de ontem, já não se viu o líder do PP no parlamento espanhol, depois de ter feito a sua defesa durante a manhã, mas hoje deverá estar no Congresso de Deputados para votar a moção. Rajoy recusa demitir–se porque seria assumir que ele próprio e este executivo têm alguma coisa a ver com o saco azul do chamado caso Gürtel, que valeu a condenação do ex–tesoureiro do partido, Luis Bárcena, a 33 anos de prisão. O tribunal chegou à conclusão de que o PP tinha um esquema institucional de corrupção.
“Um dirigente demite-se quando perde o apoio dos cidadãos ou da câmara, e eu tenho o apoio dos cidadãos e, de momento, da câmara”, afirmou Rajoy no parlamento, num discurso que seria desmentido durante a tarde, quando o PNV publicitou a sua decisão de votar favoravelmente a moção socialista e mostrar que o primeiro-ministro já não tem o apoio da câmara. A moção precisa de pelo menos 176 dos 350 deputados para passar hoje. Os cinco assentos do PNV deixam-na com 180, mais do que suficiente para pôr um ponto final no atual executivo.
Na Constituição espanhola, a moção de censura derruba o governo, mas não obriga a eleições imediatas, pois o partido que a apresentou pode formar um novo executivo com base na maioria absoluta que apoiou a sua votação. E é isso que pretende fazer Pedro Sánchez, numa geringonça de sensibilidades políticas diferentes muito difícil de gerir. Aos dois grandes blocos do PSOE e do Unidos Podemos juntam-se seis partidos regionais, alguns secessionistas, como a Esquerda Republicana Catalã e o PDeCAT, do ex-presidente do governo catalão Carles Puigdemont, ainda no exílio.
Sánchez apoiou Rajoy na aplicação do artigo 155 da Constituição, que suspendeu as instituições autonómicas e é favorável à detenção dos dirigentes que participaram no referendo proibido e na declaração unilateral de independência.
No parlamento, o líder socialista prometeu diálogo aos catalães (“reconstruir as pontes queimadas”) e manter o orçamento aos bascos para conseguir o seu apoio, num discurso que foi um “programa de estabilidade” para o executivo que pretende conduzir. Pablo Iglesias, líder do Podemos, na sua declaração de apoio a Sánchez, mostrou-se disponível para uma coligação eleitoral futura. “Trabalhámos juntos nas comunidades, trabalhamos bem juntos, diria que temos é de ganhar juntos as próximas eleições gerais”, disse.