Rui Osório teve uma vida atípica. O cónego e jornalista – e que chegou a ser chefe de redação do Jornal de Notícias – morreu na quinta-feira, aos 77 anos, na Casa da Boavista. Estava reformado desde 2005, ano em que completou 65 anos, e data a partir da qual se estreou como pároco na Foz Velha, recorda o diário sediado no Porto.

Rui Osório nasceu a 27 de outubro de 1940, em Vila Nova de Gaia. Foi ordenado em 1964 mas descobriu o gosto pela comunicação social ainda enquanto jovem estudante de Teologia. Nessa altura, manteve durante dois anos na Rádio Renascença um programa semanal, transmitido às quartas-feiras, além de ter começado a escrever para alguns jornais. 
Ainda antes do 25 de Abril, fundou o semanário Voz Portucalense, o semanário da Diocese do Porto. Foi discípulo de D. António Ferreira Gomes – o bispo do Porto exilado por Salazar – e também ele lutou contra a ditadura e contra o lápis azul na imprensa. A certa altura, a Pide vigiava-lhe as missas e até gravava as suas homilias.

Em 1977, já depois do 25 de Abril, profissionalizou-se como jornalista, com o aval de D. António Ferreira Gomes.

Conseguiu trabalho no JN, onde se manteve durante 28 anos e passou por vários cargos. Chegou a ser convidado para ser diretor mas, «cumprindo uma promessa feita ao seu bispo, nunca aceitou», escreve o diário no obituário que lhe dedicou. 

Ainda mantinha uma coluna sobre «assuntos religiosos» no jornal (aos domingos) e continuava a ir todas as sextas-feiras à redação para paginar o seu espaço de opinião. 

Marcelo Rebelo de Sousa lamentou a morte de Rui Osório numa nota de pesar publicada na página oficial da Presidência, em que recorda o «amigo pessoal». «Homem da Igreja e do Jornalismo, com uma carreira de décadas no Jornal de Notícias e na Rádio Renascença, fundador da Voz Portucalense, o Padre Rui Osório, desde há muito um amigo pessoal, foi também um combatente pela Liberdade, discípulo de D. António Ferreira Gomes, perseguido pela Polícia Política antes do 25 de Abril», lembrou o Presidente da República. Marcelo destacou ainda «o dom da Comunicação», que o cónego conseguiu pôr «ao serviço do bem comum e que fica na memória dos seus leitores e ouvintes, dos paroquianos da Foz Velha, dos amigos».

O funeral, oficiado pelo bispo do Porto, decorreu ontem na Sé do Porto. De seguida, Rui Osório foi sepultado na freguesia do Olival, que o viu nascer.