O Pedro Nuno Santos durou três dias

Angela Merkel, representante do investimento alemão, e António Costa, fizeram a concertação social 

O Partido Socialista tinha o seu Congresso para fazer o que não se afigurava propriamente fácil. Com o país cativado por António Costa e Mário Centeno, como falar dos problemas que realmente afetam os portugueses?

Como falar do SNS estrangulado por cativações onde doentes oncológicos esperam tanto tempo por uma intervenção que acabam por sucumbir, como lembrava esta semana o bastonário da Ordem dos Médicos?

Como falar do problema da habitação em Lisboa e no Porto, se as câmaras enchem os cofres com as transações imobiliárias e o imposto municipal sobre transações?

Como explicar que os combustíveis sobem há dez semanas sem parar, se o Estado vive dos impostos?

Como encarar que o ‘menino de oiro’ do PS, o ex-primeiro-ministro José Sócrates – de que quase todos os presentes na sala foram apoiantes, deputados ou mesmo governantes, a começar por António Costa -, está acusado de crimes de corrupção e de branqueamento de capitais?

Este é que deveria ser o primeiro dever do PS: falar a verdade aos portugueses. Falar do Serviço Nacional de Saúde, da habitação, dos combustíveis, da corrupção. Mas como não querem falar destes assuntos, os socialistas montaram um Congresso alternativo. 

O primeiro aspeto marcante do Congresso do PS foi ter sido amputado num terço. Ao cortar as noites de sexta e sábado, suprimiu as intervenções dos militantes anónimos, limitando as intervenções aos consagrados e aos alinhados. Costa exerceu um controlo tão férreo do Congresso que não se ouviu uma única palavra dissonante. Ana Gomes, para evitar qualquer embaraço que pudesse vir dali relativamente a Sócrates, foi posta a falar à hora a que se jogava a final da Champions.

Foi assim que nasceu o ‘pedronunosantismo’ e a conversa sobre os sucessores – bastante semelhante, aliás, àquela que em tempos assolou a Madeira, com Alberto João Jardim a semear a discórdia no PSD, com vinte anos de guerras fratricidas entre delfins, que deram no que deram.

O agora secretário de Estado Pedro Nuno Santos, que há uns anos – numa noite de fanfarronice partidária gravada para a posteridade – ameaçava Merkel e os alemães de os pôr de pernas a tremer, foi aclamado em Congresso como o sucessor de Costa… com a benevolência deste. 

Isto foi no domingo. Três dias depois, aterrava em Portugal Angela Merkel para uma visita de Estado, com laudas aos ‘bons alunos portugueses’ da austeridade. A chanceler (como ‘grande empregadora’ e representante dos patrões, dado o grande investimento alemão em Portugal) e António Costa (‘chefe máximo’ da administração pública, como primeiro-ministro), estiveram na prática a fazer a concertação social. 

As leis respetivas irão ser aprovadas no Parlamento com os votos do PS e do PSD – os tais de que Pedro Nuno Santos dizia não precisar.

O ‘pedronunosantismo’ sobreviveu três singelos dias. Paz à sua alma.

sofiarocha@sol.pt