É preciso mudar. A ideia ganha corpo dentro de um Partido Popular (PP) que começa aos poucos a recuperar do torpor em que a aprovação da moção de censura ao governo de Mariano Rajoy o deixou. Os populares, à frente dos destinos de Espanha desde 2011, não esperavam que Pedro Sánchez, o agora primeiro-ministro, conseguisse cozinhar uma maioria parlamentar para derrubar o executivo.
Numa altura em que as sondagens colocam o partido no quarto lugar, por troca direta com o Ciudadanos, já há quem fale na possibilidade de o PP vir a repetir o acontecido à UCD de Adolfo Suárez, o primeiro presidente do governo da democracia espanhola. A UCD ganhou as eleições em 1977 com 34,4% dos votos, mas dissolveu-se cinco anos depois, ao obter apenas 6,7% no escrutínio de 1982, que os socialistas de Felipe González venceram com maioria absoluta.
Nas sondagens realizadas na semana passada, só um em cada dez inquiridos admitia votar no PP. No parlamento discutia-se a moção de censura que Sánchez justificou com o escândalo de corrupção do caso Gürtel, que valeu ao tesoureiro do PP uma condenação a 33 anos de prisão e o reconhecimento de que o partido tinha instituído um saco azul e um esquema institucional de corrupção desde 1989.
Dentro do PP, a preocupação é imensa. Teme-se que o Ciudadanos possa roubar-lhe diretamente os seus eleitores, acentuando a queda e transformando um partido de poder, do arco de governação, numa formação política residual.
Perante o estado atual de fragilidade, aquilo que alguns querem evitar é que haja ainda por cima uma luta figadal pelo poder que acentue o quadro de instabilidade. A imprensa espanhola fala na possibilidade de um congresso no outono e várias vozes dizem que Rajoy deverá manter-se ao leme do partido até lá, de modo a assegurar uma sucessão o mais pacífica possível.
O líder do PP convocou para amanhã uma reunião do comité executivo nacional que poderá ser para estabelecer o plano a implementar nos próximos meses. Mas há quem tema que o ex-primeiro-ministro se decida por apresentar a demissão e queira evitá-lo a todo o custo. Não é hora de as facas surgirem entre os dentes para ganhar o poder interno. Na opinião de alguns, não deveria haver sequer um congresso extraordinário este ano, para evitar abrir campos de batalha. “É uma questão de sobrevivência. Nestas situações aparecem as misérias humanas”, afirma um senador do PP, citado pelo “MadridPress”.
Diz-se que o sucessor mais natural de Rajoy será outro galego, Alberto Núñez Feijóo, atual presidente da Xunta de Galicia, mas este já fez saber que o seu compromisso é com o executivo da Galiza, cujo mandato só termina em 2020.
Várias figuras do PP estabelecem como prioridade, mais do que encontrar alguém para substituir Rajoy, a necessidade de o partido se assumir o mais rapidamente possível como líder da oposição. Sabem que quanto mais tempo demorarem a afirmar-se, mais o Ciudadanos irá consolidando o seu espaço no centro-direita.
A menos de um ano das eleições municipais e autonómicas, com o PSOE no poder apoiado pelo Unidos Podemos e vários partidos independentistas, o PP prepara-se para uma travessia do deserto que os populares pretendem seja redentora, mas que a conjuntura poderá transformar num pesadelo.