Father John Misty
Joshua Tillman não demorou muito a libertar-se dos factos. Em nome do pai e do espírito pouco santo, o ex-baterista dos Fleet Foxes há muito que é só Father John Misty. E um caso de histeria transversal, do rock a Beyoncé para quem escreveu num jorro “Hold Up” – e já agora “Sinner’s Prayer” e “Come to Mama” para Lady Gaga. Num festival de radares ligados no momento são impiedosos, a compulsão de Father John Misty é almofada ortopédica no prado do Parque. “God’s Favorite Customer” saiu na sexta-feira e tem estreia nacional no Porto.
Palco Seat, quinta-feira, 20h25
Tyler The Creator
Esteve para ser no ano passado a estreia de Tyler The Creator em Portugal mas o concerto no Super Bock Super Rock foi adiado por motivo de força maior: havia um “Flower Boy” para terminar. O álbum sairia na semana seguinte ao festival e o que se perdeu do tumulto inicial de “Goblin” ganhou-se em maturidade. A voz taciturna de Tyler é cada vez um espelho da consciência. E a prova de que não é um satélite.
Palco Seat, quinta-feira, 23h20
Jamie xx
“I See You”, o mais luminoso dos três álbuns dos xx, não teria sido possível sem “In Colour” de Jamie xx, mas quem espera um alinhamento de coexistência entre família e membro, pode apanhar uma deceção. Sozinho, o arquiteto rítmico abre precedentes sonoros e explora à exaustão os samples trabalhados de ambos os lados, rebuscando ainda outra das grandes paixões: as raízes da música eletrónica londrina.
Palco NOS, quinta-feira, 00h25
Ibeyi
As gémeas Lisa-Kaindé e Naomi Díaz são a Torre de Babel em pessoa. Franco-cubanas de ascendência, expressam-se em inglês e iorubá, língua africana que chegou a Cuba com a importação de escravos. A congregação chegou aos ouvidos da editora XL e se no álbum inaugural deixavam pistas, “Ash”, do ano passado, é canto da boca sobre a força de vida. Uma primeira vez a não trocar.
Palco Pitchfork, sexta-feira, 20h45
Vince Staples
Os capítulos recentes do hip-hop são um decalque quase perfeito da história do rock entre a explosão dos Guns N’Roses e a morte de Kurt Cobain. Até no pior, como a morte por overdose. de Lil’Peep. Mediatismo e relevância trazem pluralidade. Vince Staples é a antítese dos “bitch-clichés” por vezes ainda aplicados quando a visão é preconceituosa mas se há coisa que o rapper da Califónia não tem é vulgaridade.
Palco NOS,sexta-feira, 22h15
Thundercat
Tem nome de superherói felino e, à sua maneira, Thundercat é salvador mas delicado. Há alguns anos, passou discretamente pelo Musicbox. O vento mudou e ele volta por outra porta: a do NOS Primavera Sound com honras de horário nobre, justas para “Drunk”, o álbum da consagração como um dos músicos essenciais da grande árvore negra. Uma síntese de jazz, funk e soul em contacto direto com o hip-hop.
Palco Pitchfork, sexta-feira, 23h30
Fever Ray
Houve quem a estranhasse efervescente, libertária e física de “Plunge” mas esta Fever Ray não prescinde da conflituosidade de “Shaking The Habitual”, o álbum do confronto dos The Knife. Choque, mas não com o passado, nem entre manifestos políticos e uma banda sonora que agita a consciência e convida o corpo. “IDK” foi produzida por Nidia Minaj. Vai dançar-se com a cabeça no Porto.
Palco Seat, sexta-feira, 00h00
A$ap Rocky
A trilogia de cabecilhas do hip-hop completa-se com uma estreia há muito pedida. A$Ap Rocky não é transversal como Kendrick Lamar, nem pop como Drake mas personifica uma forma de estar no hip-hop, improvável antes de Kanye West, para quem cada verso ou instrumental pode ter a importância conceptual de um Miró ou a visão de um Corbousier. “Testing”, o novo álbum, ainda está quente do forno e vai aquecer por certo.
Palco NOS, sexta-feira, 00h45
Nick Cave & The Bad Seeds
À luz de primaveras anteriores, este seria o concerto central do festival. Como o foi em 2013 quando um Nick Cave no auge da forma arrebatou o Parque da Cidade na ressaca do excelente “Push The Sky Away”. Em 2015, o filho adolescente caiu de um penhasco, morreu e a vida de Nick Cave mudou. “Skeleton Tree” foi a resposta emocional. Os concertos e as sessões públicas de conversa a redenção necessária.
Palco NOS, sábado, 22h05
Arca
E ficam fora destas escolhas Four Tet, War On Drugs, Unknown Mortal Orchestra e Kelela…um luxo para treinadores de bancada e uma dor de cabeça para fazer escolhas no Primavera Sound portuense. Fome ninguém vai passar e convém atestar o depósito para ter energia até à madrugada de sábado quando o Midas da pop esquisita, Arca, se estrear em Portugal com uma performance que é tudo menos um DJ set.
Palco Pitchfork, sábado, 02h30