A ideia seria, assim que a primeira-ministra Theresa May tenha um acordo assinado sobre a saída do Reino Unido da União Europeia e o submeta à aprovação do Parlamento britânico no outono, um grupo maioritário de deputados apresentar uma emenda para convocar um segundo referendo sobre o Brexit.
A organização Best for Britain lançou na sexta-feira a sua campanha pelo segundo referendo e já terá conseguido convencer 40 deputados a alinhar na luta por uma nova consulta, prontos para introduzir a emenda a qualquer legislação aprovada pelo Governo para dar andamento ao processo da saída da UE.
Com 2,3 milhões de libras (2,6 milhões de euros) recolhidas para a campanha (dinheiro em grande parte doado pelo multimilionário americano de origem húngara George Soros), a ONG apresentou ontem o programa de ações para evitar que «todo o Governo faça avançar sonambulamente o país para a meta do Brexit em março de 2019».
Chegou «o momento da verdade» sobre o que sair da UE realmente quer dizer para o Reino Unido, afirmou o presidente da ONG, Mark Malloch-Brown, antigo ministro do Trabalho do Partido Trabalhista. A importância dos deputados do Labour é fundamental para o sucesso da campanha, mas sem pelo menos dez deputados conservadores a iniciativa não alcançará nada.
Para Malloch-Brown, que também já foi vice-secretário-geral da ONU, a «incerteza crónica» em relação aos contornos do Brexit e às negociações com a UE está a afetar de sobremaneira as empresas britânicas que é necessário «resolver a questão de uma vez por todas».
Ao plano de segundo referendo sobre o Brexit já disse o Governo de May que não há nada a fazer: «Não vai haver um segundo referendo», garantiu o porta-voz da primeira-ministra. Nada que afete a vontade da Best for Britain, que pretende fazer campanha em 70 distritos que considerou ‘chave’ durante os meses de verão, incluindo «falar com as pessoas porta à porta sobre como o Brexit as irá afetar». Tenciona gastar 500 mil libras (569 mil euros) em outdoors e anúncios nos jornais para ajudar a influenciar o debate.
«Acreditamos que o processo do Brexit não tem nada a ver com as principais razões pelas quais as pessoas votaram para sair: uma chamada de atenção a Westminster para despertar para a realidade da vida na moderna Grã-Bretanha – terrenos industriais baldios em partes do nosso país e a perda de bons empregos, um serviço de saúde fragilizado, casas demasiado caras e as dívidas dos estudantes a crescerem», escreve a ONG no seu manifesto.
Como explicava a diretora executiva da Best for Britain, Eloise Todd, ontem no lançamento da campanha, «durante demasiado tempo pediram-nos para engolir a mentira de que os votos de 17 milhões de pessoas – com as suas histórias individuais, experiências e ideias – deram a May um mandato claro para conseguir o Brexit que ela bem entender, não importando o quão diferente possa ser da ideia original ou os danos que possa vir a causar».
Em teoria, ainda há possibilidade de haver um segundo referendo sobre o acordo final do Brexit no princípio de 2019, desde que seja o Parlamento a convocá-lo, daí a necessidade de convencer um número suficiente de deputados para o conseguir – é preciso uma maioria para passar a emenda na Câmara dos Comuns. A Best for Britain também acredita que haverá da parte de Bruxelas abertura para atrasar o processo de saída do Reino Unido da UE, marcado para 29 de março de 2019. «Depois de 29 de março de 2019, a nossa hipótese de permanecer vai desaparecer», sublinha a ONG numa carta aberta aos eleitores.
As críticas ao apoio de Soros
O facto de George Soros estar envolvido no financiamento da campanha já levou a que muitas críticas se fizessem sentir, nomeadamente por parte da aguerrida imprensa conservadora tabloide. Nigel Farage, antigo líder dos nacionalistas britânicos – que com Boris Johnson (que esta semana foi gravado a dizer mais umas quantas ‘verdades’ à Boris sobre o Brexit, ver caixa ao lado) foi o rosto da campanha do Brexit – foi citado recentemente pelo Daily Mail a dizer «nós já decidimos». O grupo pró-Brexit ‘Leave.EU’ chamou a Malloch-Brow uma «marioneta de Soros».
Na sexta-feira, o antigo ministro procurou minimizar o papel da Open Society de Soros na Best for Britain, garantindo que corresponde apenas a 20% do financiamento. «Tal como ele, tenho muito orgulho de uma carreira feita nos direitos humanos internacionais, promovendo a democracia e tentando assegurar a manutenção de culturas democráticas saudáveis em países um pouco por todo o lado. Não esperava estar a fazê-lo em casa, mas é com prazer que o faço», explicou.