O Ciudadanos vai aproveitar uma moção sobre o Instituto Cervantes para forçar o Congresso de Espanha a votar, na terça-feira, a antecipação das eleições legislativas. O texto, que vai ser votado e debatido no plenário inclui um ponto no fim para «instar o Governo a convocar eleições gerais de imediato para que os cidadãos discutam o futuro político de Espanha». Com exceção deste ponto, a moção é apenas sobre o Instituto Cervantes.
A insistência do Ciudadanos em antecipar eleições, tem origem no facto de todas as sondagens apontarem na mesma direção: a transformação do partido liderado por Albert Rivera na primeira força política do país. O Metroscopia, o instituto estatístico do El País, sugeria em maio que o Ciudadanos está a caminho de conquistar 29,1% dos votos, mais dez que o Podemos, PP e PSOE, em segundo, terceiro e quarto lugar, respetivamente, separados por poucas décimas – 19,8%, 19,5% e 19%.
Mas o principal conselheiro do novo presidente do governo espanhol defende que eleições antecipadas não resolveriam os problemas de Espanha, rejeitando os pedidos de antecipação do sufrágio.
Pedro Sánchez, cujo PSOE tem apenas 84 dos 350 lugares do Parlamento, tomou posse fez este sábado uma semana, depois de no dia anterior o Governo de Mariano Rajoy ter chegado ao fim após uma moção de censura apresentada pelo próprio Sánchez. «É evidentemente incomum governar com 84 deputados, mas a situação política continua muito fragmentada e tudo aponta para que um novo escrutínio não a resolva», disse José Luis Abalos, descrito como o braço direito de Sánchez, à rádio COPE.
A atual legislatura acaba a meio de 2020, mas a falta de uma maioria, bem como uma série de acontecimentos políticos complicados – crise catalã, Orçamento para 2018 ainda por aprovar (os nacionalistas bascos votaram favoravelmente a moção de censura em troca de a verba para o País Basco não sofrer qualquer corte) – deixam na dúvida quanto tempo irá durar este Executivo.
Também os nacionalistas catalães apoiaram a moção de censura, mas Abalos – interlocutor entre Sanchéz e o Congresso no processo de construção da moção de censura e novo ministro do Fomento – disse à COPE que não houve negociações diretas entre os partidos. Os nacionalistas querem dialogar com Sánchez, mas dizem que vão continuar a luta pela independência. Sánchez também fala em diálogo, rejeitando, no entanto, um novo referendo sobre a independência catalã.
O novo ministro dos Negócios Estrangeiros, Josep Borrell, que foi ministro de Felipe González e presidente do Parlamento Europeu, afirmou que o movimento independentista catalão é «o maior problema» do país na atualidade. «São tempos difíceis. A Espanha enfrenta, talvez, o maior problema que pode enfrentar um país: o da sua integridade territorial», disse Borrell, que é catalão.
Sánchez tem o seu governo dependente de uma maioria composta por vários partidos, numa frágil coligação de apoios que, mesmo assim, quer fazer valer para evitar ir às urnas antes do fim da legislatura. O seu principal aliado é o Unidos Podemos – junta o Podemos e a Esquerda Unida -, mas o líder do Podemos já anunciou que fará uma oposição dura caso Sanchéz falhe as expectativas. Pablo Iglesias, garantiu um «calvário» para Sanchéz caso este perca o apoio do Podemos, que dará «a mínima cortesia parlamentar» durante «uma, duas ou três semanas».