Ora, o conselho inicial é algo impossível de conseguir. Ninguém escapa ao passar do tempo, que, voraz, vai consumindo tudo e todos. O tempo não para e, assim, é impossível fugir-lhe. O que podemos tentar fazer, e talvez seja esta a sugestão do autor da frase, é procurar manter o espírito jovem ao longo da vida, espantando-nos com a própria vida e não desistindo de nos surpreendermos com aquilo que ela nos reserva. Esta atitude de inconformismo e de permanente deslumbramento é característica das crianças e dos mais jovens. Só esta atitude poderá contrariar o conformismo com que a vida vai tentando minar os espíritos jovens.
Também a segunda parte do conselho tem algo de desilusão associada. Não são só as crianças que sonham, apesar de, melancolicamente, alguns adultos assim pensarem. Como diz Afonso Cruz: «As crianças são muito mais resistentes do que imaginamos e, sem querer mitificar a ideia da infância, estas parecem manter-se intocadas para surgirem em ocasiões especiais impondo uma ternura inocente aos rostos mais magoados. A verdadeira pátria do homem é a infância, disse Rilke. A infância é a pátria comum de todos os mortais, disse Delibes. A minha pátria é a infância, disse Baudelaire. A infância é a pátria de todos, disse Saint-Exupéry».
Muitas são as pessoas que mantêm a capacidade de sonhar ao longo da vida e de lutar pelos sonhos. Só assim a vida faz sentido. Sem um ideal que nos guie, a vida, e tudo aquilo que fazemos, perde o rumo e perde-se na sucessão de dias que acabam por nos consumir. Como diz o poeta Langston Hugues: «Não desistas dos teus sonhos / Pois se os sonhos morrerem / A vida será como um pássaro de asas quebradas / Incapaz de voar. / Não desistas dos teus sonhos / Pois quando os sonhos se vão/ A vida é um campo estéril / Congelado com neve”.
E, ainda, como diz Gedeão: «O sonho comanda a vida». O sonho guia, inspira, leva-nos a fazer o que nunca pensámos fazer ou aquilo que pensávamos não ser capazes de fazer, e dá-nos a coragem acrescida de que necessitamos para ultrapassar obstáculos.
Mas, ao contrário das crianças, os sonhos dos adultos são sonhos mais concretos e não tão idealizados. As crianças sonham com brinquedos, com aquilo que gostariam de ser um dia mais tarde, com a felicidade e a da família… Os adultos também sonham com brinquedos, a que chamam «gadgets» para disfarçar; com aquilo que não gostariam de ser, por oposição àquilo que são; com a felicidade e a da família. No fundo, não há grande diferença naquilo que sonham. A principal diferença está na esperança genuína que depositam nos sonhos e na intensidade com que sonham os desejos.
Assim, de nada serve querer ser criança para poder sonhar. Os adultos sonham e lutam pelos sonhos. Apesar de alguns já se terem esquecido dos sonhos, muitos são os que continuam sempre a sonhar, e a pensar positivamente que vão alcançar os sonhos.
Maria Eugénia Leitão
Escrito em parceria com o blogue da Letrário, Translation Services