Na passada quinta-feira o parlamento francês aprovou um projeto de lei que proíbe o uso de telemóveis nas escolas públicas e universidades a partir do próximo ano letivo.
Todos sabemos como é assustadora a forma como estes aparelhos começam a tomar conta de pequenos e graúdos e das implicações graves que têm vindo a ter em toda a sociedade, mas sobretudo nos mais novos.
Parece-me mais ou menos óbvio que num sítio que se destina ao crescimento, descoberta, aprendizagem e concentração, bem como ao convívio e diversão, os telemóveis sejam aparelhos que isolam e limitam, não só dispensáveis como até prejudiciais. É muito diferente entrarmos numa escola e vermos jovens a conversar, a jogar à bola ou a passear e numa outra com uma espécie de seita de autómatos alucinados agarrados a pequenos aparelhos que lhes consomem o tempo e a atenção e acabam por controlá-los. Já para não falar do modo como são usados para alimentar uma espécie de sadismo que expõe e invade a privacidade dos outros muitas vezes de forma dantesca, revelando as suas maiores fragilidades e as piores facetas da sua intimidade. Nas salas de aula, então, os telemóveis estão para a aprendizagem como o ruído está para o sono ou para o pensamento.
Se parece óbvio que os telemóveis não fazem falta e são prejudiciais nos estabelecimentos de ensino, já não é tão óbvio que tenha de ser o parlamento a ditar a sua proibição. Cada escola devia ter autoridade e poder suficiente para decretar as suas regras consoante a filosofia que defende. Ter de ser um órgão externo a impor e decidir as regras das escolas só confirma a ausência de autoridade e autonomia que estas têm.
Antigamente a escola representava uma instituição sólida, de regras claras que tinham de ser cumpridas sob risco de punições, o que impunha a crianças e jovens limites e valores indispensáveis ao desenvolvimento. Hoje é um salve-se quem puder. Há quase um medir de forças cada vez mais difícil entre as duas fações. Paradoxalmente, esta falta de controlo nos mais novos salta à vista através das grades altíssimas que limitam as escolas, dos portões de alta segurança, dos cartões sofisticados e do controlo apertadíssimo. Se por um lado estas prisões para alunos se destinam também a protegê-los, por outro lado essa faceta empresta às escolas um ar tão pouco prazeroso e acolhedor que revela a aflição de quem lá trabalha e a dificuldade que tem em proteger e fazer valer a sua autoridade.
Não basta os mais novos saberem que não podem sair da escola: têm de estar fechados a sete chaves para todos terem a certeza que lá ficam. E, curiosamente, só dá a entender que a escola é um sítio de onde se quer fugir e não um lugar onde se quer entrar, estar e demorar o tempo que for preciso.