Curta. Um coração pelos caminhos do terror

A história que apaixonou São José Correia juntou-se ao gosto pela realização para dar asas a um novo projeto. Encantada pelo mundo do terror, mistério e drama, a atriz vai lançar em breve a sua segunda curta. O i foi acompanhar as filmagens

Não é deste lado da câmara que a conhecemos. Mas também já não é uma estreia para a atriz: em 2014, São José Correia experimentou o papel de realizadora, que agora volta a vestir para uma segunda curta-metragem, “O Coração Revelador”, que – e apesar de o nome não o indicar – se aventura pelo mundo do terror.

Um género com o qual a atriz e realizadora se identifica, uma vez que gosta muito do mundo do mistério. Além disso, admira Edgar Allan Poe – autor em que se baseou para o argumento deste “O Coração Revelador”. “Juntaram-se uma série de circunstâncias” para este projeto “ser possível”, assume. É uma ideia que tinha em mente há mais de dois anos.
As gravações da nova produção decorreram no último mês de maio, num prédio lisboeta, e deixaram a atriz “muito entusiasmada no lado de trás das câmaras”. E fascínio pelos atores é uma grande motivação para a realizadora, que garante ter um grande respeito pelo trabalho das personagens.

No entanto, e apesar de, durante um período, se ter dedicado exclusivamente à curta-metragem, a representação não foi definitivamente posta na gaveta. “Neste momento sinto que este mundo me complementa”, garante.

Tem passado várias horas a ver com olho crítico filmes de outros realizadores, o que tem um duplo impacto. Por um lado, esta é uma grande ajuda “a nível profissional”, mas, por outro, faz com que tenha expetativas ainda mais altas face a esta nova fase: “Quero que se perceba o que tenho vindo a aprender.”

Entre aquilo que quer dizer e aquilo que a realidade lhe dá, São José Correia diz que encontra o meio-termo quando trabalha com todos os profissionais que envolvem uma produção fílmica. 

É um trabalho que partilha com a produtora Maumau Mia Produções, que gostou do olhar da atriz noutros trabalhos e relembra ser “uma aposta ganha [produzir uma curta deste género]”, afirma o produtor Maurício Ribeiro.
Já José António Loureiro, diretor de fotografia, conta que toda a equipa se reuniu previamente. “A São foi muito clara e, até agora, o resultado [das imagens] é positivo”, diz enquanto visualiza, satisfeito, cenas que remontam ao séc. xiv.

PROJETOS GUARDADOS

Trabalhos como varrer o palco e ajudar a montar luzes não assustam São José. Até porque não são uma experiência nova para a atriz que, no início da sua carreira, fez um espetáculo – “Os Dias Inteiros nas Árvores” – que, no intervalo, exigia uma mudança radical de cenário. Num dia de exibição da peça faltou um elemento da equipa de mudanças e foi São quem se voluntariou para o fazer.
Muitos anos depois, em 2014, estreou–se como realizadora com o projeto “Noite na Praia” – um primeiro passo que teve uma repercussão que a deixou orgulhosa: a película estreou-se nas salas de cinema nacionais, onde ocupou os primeiros minutos do filme “Map to the Stars – Mapas para as Estrelas”, do realizador canadiano David Cronenberg.

A EXIGÊNCIA

Enquanto nos conta estas incursões deste lado da câmara, chega–nos aos ouvidos que a sua experiência como atriz dá água pela barba aos atores. Quem o confessa é Rui Neto, protagonista desta curta, afirmando que a maior dificuldade é o nível de exigência que a realizadora já tem, naturalmente, enquanto atriz. E para este papel há pormenores muito precisos tanto ao nível do texto como da interpretação: pausas entre as falas, expressões e respiração controlada.

E, claro, o próprio método de cada ator. Rui Neto não encara a personagem como algo que vista e viva só naquele momento. E acredita que os pormenores, como os tais tempos que escolhe para interpretar certas palavras ou as pausas, são reveladores da mente que quer encontrar enquanto ator. E no seu caso, planeia com antecedência estas pequenas nuances – que, no final, irão dar vida à personagem.

A conversa corria ligeira, mas há uma curta de terror para filmar. É hora de a claquete entrar em cena. Luzes, câmara… ação.

*Texto editado por Mariana Madrinha