Mais um dia, mais um… não, foi mais um capítulo da novela-Sporting: foram vários. Na atualidade leonina, um dia parece ter bem mais do que 24 horas. Entre comissões disto e daquilo, suspensões legítimas e ilegítimas, acusações disparadas em vários sentidos, torna-se complicado encontrar o fio à meada. Mas… lá vai mais uma tentativa.
Depois de uma publicação de Bruno de Carvalho nas primeiras horas da madrugada na sua página de Facebook a apelar à comparência dos sócios à Assembleia-Geral (AG) marcada pelo Conselho Diretivo (CD) para o próximo domingo, onde ressalva que o “medo é para os fracos”, a Comissão de Fiscalização do Sporting, nomeada a 31 de maio pela Mesa da AG presidida por Jaime Marta Soares, declarou, durante a manhã, a suspensão preventiva com efeitos imediatos do presidente leonino, justificando essa decisão com uma alegada violação dos estatutos do clube por parte de Bruno de Carvalho. A AG de dia 17 ficaria, assim, sem efeito, com o presidente a ter dez dias para responder à nota de culpa.
Nesta intervenção, os advogados António Paulo Santos e Rita Garcia Pereira detalharam que, além da suspensão dos cargos, Bruno de Carvalho ficava automaticamente proibido de entrar nas instalações do clube e que todos os atos tomados a partir de agora pelo CD por ele presidido serão nulos. Deixaram, ainda, a ameaça de, “se necessário, recorrer à via judicial e à remoção coerciva” dos elementos do mesmo.
É quando ele quiser! Pouco depois, em conferência de imprensa marcada por Bruno de Carvalho – à qual o próprio não compareceu -, a comissão transitória da Mesa da AG, constituída no seguimento da anunciada demissão de Jaime Marta Soares e presidida por Elsa Judas, declarou não reconhecer legitimidade à Comissão de Fiscalização, bem como a todas as medidas anunciadas pela mesma. Bernardo Trindade Barros, vice-presidente desta comissão transitória, falou em “golpada”, a mesma expressão utilizada por Bruno de Carvalho numa primeira reação imediata… via Facebook – onde se referiu à Comissão de Fiscalização como “pelotão de fuzilamento”, acusando-a de tentar tomar o poder à força e de ser o espelho da vontade de “meia dúzia” de sócios. Trindade Barros criticou a mesma, a que preferiu chamar “grupo de sócios”, por “entenderem que têm poder para fazer um processo disciplinar ao conselho diretivo, sem nota prévia, e suspendê-lo imediatamente de funções antes de qualquer contraditório e sem se poder defender”.
Fernando Correia, porta-voz do presidente leonino, garantiu que Bruno de Carvalho “continua a ser sócio e presidente do Conselho Diretivo do Sporting” e, questionado sobre a proibição do mesmo frequentar as instalações do clube, foi perentório: “Bruno de Carvalho vem às instalações dele quando quiser!” Elsa Judas corroborou esta ideia. “É a lei que lhe dá a garantia de que ele vai continuar em funções. O dr. Bruno de Carvalho e a sua direção estão legitimados por quem têm de estar: pelos sócios”, disse, afirmando ainda que Jaime Marta Soares tem medo que Bruno de Carvalho seja reeleito em caso de novas eleições. “Não há nenhuma decisão judicial que determine a ilegalidade das AG marcadas (17 de junho e 21 de julho). Ninguém pode entrar aqui com a polícia e retirar daqui o presidente sem haver uma decisão judicial transitada em julgado. A putativa comissão – não quero falar em usurpação de funções – adiantou-se à decisão dos tribunais e fez o papel de juiz de primeira instância, de recurso e até de Supremo”, concluiu a advogada.
Garantindo que a “única missão” da comissão transitória é “defender os sócios e não os interesses do presidente do CD”, e que tal significa unicamente “cumprir os estatutos”, Trindade Barros voltou a acusar a Mesa da AG de estar “focada num único objetivo: a demissão do CD”.
Mais rescisões na calha Em comunicado posteriormente publicado, Marta Soares reiterou a realização da AG destitutiva marcada para o próximo dia 23, considerando-a como “a única legítima, legal e estatutariamente convocada”, e enumerou os fundamentos de justa causa para a revogação do mandato do CD presidido por Bruno de Carvalho.
Entre outras acusações, como a de delapidação do património material e imaterial do Sporting, Marta Soares condena “situações em que se referiu de forma insultuosa a sócios do Sporting classificando-os de sportingados, ovelhas, ratos, entre outras expressões inaceitáveis”.
Entretanto, Bruno de Carvalho voltou ao Facebook para deixar claro que vai continuar a atuar como presidente do clube. “Amanhã lá estaremos a trabalhar normalmente para ainda esta época vivermos momentos de conquistas, e a preparar a próxima época (estágios, plantéis, etc) de 55 modalidades!”, escreveu.
Antes de toda a polémica, o Sporting já havia emitido um comunicado onde fazia o ponto de situação para a temporada 2018/19 não só do plantel principal como da equipa de sub-23 recém-criada. No documento, assinado por Fernando Correia, a estrutura leonina revelava que, para além de eventuais mudanças motivadas por “possíveis rescisões, vendas e compras”, estão ainda a ser negociadas três contratações (um guarda-redes, um extremo e um avançado), bem como a possível continuidade de Fábio Coentrão.
Nos nomes apresentados, já com os reforços Bruno Gaspar, Marcelo e Raphinha, apenas não constam os atletas do atual plantel que apresentaram pedidos de rescisão (Rui Patrício, William Carvalho, Bruno Fernandes, Gelson Martins, Podence e Bas Dost. Mathieu, Battaglia, Acuña e Rafael Leão fazem parte da listas, apesar da alta possibilidade de virem a apresentar igualmente cartas de rescisão durante o dia de hoje – último em que o podem fazer.