Há duas semanas que está em curso a maior greve de professores desta legislatura e, de acordo com as últimas sondagens, o ministro é considerado o pior governante em funções. É o momento mais tenso que Tiago Brandão Rodrigues enfrenta no seu mandato e, até ontem, o ministro tinha andado desaparecido dos holofotes, sendo que há mais de 15 dias que a comunicação social não recebe a nota de agenda pública do governante.
A única vez que Tiago Brandão Rodrigues tinha feito declarações públicas depois do início da greve foi no parlamento, há oito dias, durante um debate em plenário cujo tema foi a Educação.
Mas esta ausência não é um sinal de desistência do ministro. O SOL sabe que Tiago Brandão Rodrigues não pediu para sair do Governo nem o primeiro-ministro António Costa tem vontade que o titular da pasta da Educação abandone a equipa do Executivo.
O desaparecimento – que está a ser criticado pelos professores – foi, sim, uma decisão estratégica do próprio ministro, que sabe que está longe de colher a simpatia dos docentes, sabe o SOL. Não resulta de qualquer indicação do primeiro-ministro.
Só ontem – depois de ter sido alvo de duras críticas dos professores por ter ido à Rússia esta semana ver o jogo de Portugal – o ministro decidiu dar as primeiras entrevistas sobre o assunto e esteve na RTP, na Antena 1 e na Renascença.
Secretários de Estado seguram as rédeas
Nesta altura, Tiago Brandão Rodrigues fala à comunicação social tendo já na bagagem duas semanas de greves que estão a registar forte adesão, com largas centenas de reuniões de avaliação a serem adiadas e com alunos a irem a exames nacionais sem saberem a nota dos professores.
Durante estes dias de tensão, coube ao secretário de Estado da Educação, João Costa, surgir em público várias vezes a prestar esclarecimentos aos professores e alunos sobre as orientações enviadas às escolas, onde constam as regras a adotar durante a greve.
Esta já não é a primeira vez que, em momentos quentes de conflito na Educação, Tiago Brandão Rodrigues desaparece publicamente e se remete ao silêncio. Já em 2016, quando o ministério enfrentou o primeiro momento de forte contestação, com os colégios a manifestarem-se contra o corte dos contratos de associação, o ministro decidiu rumar ao Brasil para assistir aos Jogos Olímpicos, fazendo-se acompanhar da sua assessora. Nessa altura, coube à secretária de Estado Adjunta e da Educação, Alexandra Leitão, tomar as rédeas do conflito, por parte da tutela.
Questionado esta semana pelo jornal i sobre os motivos de ausência e o silêncio do ministro, o Ministério da Educação diz que «o ministro esteve visível e falou publicamente no final das reuniões com os sindicatos, o que nem é comum porque se trata de reuniões regulares de trabalho». A tutela argumenta ainda que «depois a agenda seguiu normalmente, com idas a escolas, eventos públicos e não públicos e ao parlamento».
No entanto, há mais de 15 dias que a tutela não envia aos órgãos de comunicação social qualquer nota de agenda pública do ministro. A última nota de agenda de Tiago Brandão Rodrigues que chegou à comunicação social tem a data de 5 de junho e diz respeito a uma visita realizada pelo ministro ao Conservatório de Lisboa para a apresentação da reabilitação do edifício. Para esse evento o ministro foi acompanhado do primeiro-ministro.
Viagem à Rússia
A forte contestação não foi impedimento para que, esta semana, enquanto se remetia ao silêncio, o ministro decidisse rumar até Moscovo para assistir ao jogo de Portugal, ausentando-se do país entre terça e quinta-feira. Foi o único governante a ir a Moscovo para assistir à partida entre Portugal e Marrocos.
Também aqui o Ministério da Educação decidiu contrariar a prática habitual e não enviou qualquer comunicado oficial sobre a viagem do ministro a Moscovo.
No entanto, fonte oficial da tutela confirmou ao i a deslocação do ministro a Moscovo, fazendo-se acompanhar da sua assessora. Recorde-se que o ministro Tiago Brandão Rodrigues tutela o desporto existindo no ministério um secretário de Estado com responsabilidades exclusivas neste pelouro do desporto e na juventude, que não se deslocou à Rússia.
A viagem caiu mal entre os professores e vários docentes ouvidos pelo i: veem a ida do ministro à Rússia, enquanto enfrenta a maior greve, como uma «falta de respeito» e classificam o ministro como «figura decorativa» do Executivo. A mesma opinião impera nas redes sociais da área de Educação, como em grupos de professores no Facebook ou nos .blogues DeArlindo, O Meu Quintal ou o ComRegras – sendo estes alguns dos blogues mais visitados em Portugal – onde se leem vários comentários a criticar o ministro.
No blogue ComRegras há mesmo um «ultimato» lançado ao ministro: «Apareça ou Saia».
A viagem foi ainda a razão para que o ministro não tivesse marcado presença no debate quinzenal que decorreu na presença do primeiro-ministro e dos restantes membros do governo. O Ministério da Educação fez-se representar pela secretária de Estado Adjunta da Educação, Alexandra Leitão.
Questionado pelo SOL, o Ministério da Educação justifica a viagem com o calendário de representações do Governo no Mundial que «está definido», diz a tutela «há várias semanas».
Sobre a falta de nota de agenda do ME enviada à comunicação social, onde seria dada a conhecer a deslocação, a tutela diz que «seria o responsável máximo da tutela do desporto que acompanharia o Presidente da República nesta deslocação, facto que era conhecido há semanas». Mas a prática habitual do ME é comunicar todos os atos públicos dos governantes com um dia de antecedência ou até mesmo no próprio dia. O que não acontece há duas semanas com o ministro. O ME deixa ainda por explicar porque é que, durante este clima de tensão com os professores, não foi opção para o ministro não ir à Rússia ou até mesmo fazer-se representar pelo seu secretário de Estado do Desporto.