O parque temático do rock está quase a reabrir. Quando for meio-dia em ponto, os portões do Rock In Rio voltarão a descerrar uma cidade renovada com novas atrações e propostas. A música continua a ser o rastilho mas a explosão faz-se de muitas formas. Há 14 anos em Lisboa, eis um festival que nunca escondeu o perfil familiar. E na oitava edição, volta a olhar para os grandes fenómenos populares, subtraindo um dia mas somando horas de diversão.
Por exemplo, Bruno Mars – um dos maiores artistas pop atuais – que após ter bisado a lotação esgotada no MEO Arena, conhece por fim a consagração em festival. O filho bastardo de Michael Jackson é a estrela cintilante e a prova está provada. Os bilhetes para amanhã esgotaram em abril. «Nunca esgotámos com tanta antecedência», recordava a promotora Roberta Medina em grande entrevista ao i.
As canções pop universais como ‘Locked Out Of Heaven’, ‘24k Magic’, ‘Treasure’, ‘Versace On The Floor’ e ‘Uptown Funk’ (de Mark Ronson com voz de Bruno Mars), mas também as coreografias, herdadas quer do Rei da Pop, quer do Soul Train, polarizam atenções mas Mars está longe de ser um planeta isolado na galáxia. Agir parte pescoços a partir das 18h00 e passa o testemunho à rainha do funk Anitta a partir das 19h45. ‘Vai Malandra’ gritará a plateia na chegada do ‘Show das Poderosas’.
A carioca preparou um espetáculo para o Rock In Rio com bailarinos portugueses e promete moderação. No discurso? Talvez. Ao nível do corpo? Não teria piada. O horário não confere com a escala global do fenómeno Anitta. A 15.ª artista mais seguida nas redes sociais, à frente, por exemplo, de Lady Gaga, Shakira e Rihanna; o vídeo de ‘Sua Cara’ bateu o recorde de visualizações nas primeiras 24 horas em 2017. Apetece perguntar: quem é Demi Lovato? Uma artista pop, pois claro, que, pelas 21h15 terá a ingrata tarefa de dar um concerto emparedada entre a sessão de aeróbica de Anitta e a ansiedade pela chegada de Bruno Mars.
Calma: ainda faltam 24 horas. Hoje, o dia é um pouco mais elétrico sobretudo graças aos regressados Muse, uma década depois da estreia no festival quando os estádios vinham a caminho na rota de uma banda que escolheu ser grande sobre ser boa. E foi bem sucedida.
O ex-futuro vencedor do Festival da Canção, Diogo Piçarra – uma das raras vozes pop com horizontes de carreira -, as irmãs Haim, embaixadoras do sol da Califónia – e os Bastille são as atrações do Palco Mundo para um primeiro dia que, à semelhança do segundo, está esgotado. Ou seja, o Rock In Rio começa com casa cheia.
E se a música é o ponto de partida, há inúmeros chamamentos no recinto. Por exemplo, o Super Bock Digital Stage- um palco com a missão de trazer os fenómenos do entretenimento online para o real. O projeto foi estreado no Brasil e, tal como sublinhava Roberta Medina na entrevista ao i, «das 700 mil pessoas que foram, 350 mil passaram por lá». «Queremos que o gaming seja transversal, que a mãe curta e pai curta. Então vamos ter uma arena como no Brasil. E a indústria do entretenimento online é um facto. E não só entre os jovens. É um fenómeno. Há o cinema, as séries e os youtubers», justificou. «A indústria do gaming, por exemplo, é maior que a da música e que a do cinema desde 2013», acrescentou ainda.
YouTubers, jogadores, influenciadores e personalidades de internet são desafiados a destapar o alter-ego e a revelar-se além das câmaras, das fotos e da realidade virtual.
Comer mal em festivais já era. O tempo é de gastronomia requintada. E além das estrelas pop no Rock In Rio há estrelas…Michelin. O Time Out Market Rock in Rio vai recriar o renovado Mercado da Ribeira e contará com 380 lugares sentados e 14 restaurantes. Chefs de renome como Alexandre Silva, Henrique Sá Pessoa, Marlene Vieira e Vítor Sobral estarão presentes com a sua cozinha de autor. «Em vez de agarrarmos a música e deixarmos o consumidor que se interessa por gastronomia procurar outro lugar, trouxemos a gastronomia para a Cidade do Rock (…) A gastronomia transformou-se num espaço próprio, sofisticado», defendia a promotora na referida entrevista de antevisão.
Além de um Music Valley com música ininterrupta entre as 12h30 e as 02h00 só com festas, DJ e concertos de bandas portuguesas, de uma Street Dance para quem dar o corpo ao manifesto, uma Rock Street África, dedicada à cultura africana tão enraizada que já nem faz sentido dissociar da portuguesa, há um acontecimento chamado Xutos & Pontapés. Tal como Ivete Sangalo, a instituição do rock português é ‘residente’ no festival e participou em todas as edições desde o início. Este é o primeiro ano do resto da vida dos Xutos após a morte de Zé Pedro no final do ano passado. O concerto já teria uma carga emotiva sobrenatural mas a homenagem de políticos convidados a pisar o palco atribuiu-lhe também ineditismo.
E se o primeiro-ministro António Costa ainda não sabe se participará no tributo ao ícone do rock português, Marcelo Rebelo de Sousa já fez saber que estará presente. Resta saber em que papel. Certo é que o presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, a líder do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, e o antecessor Francisco Louçã farão parte do coro de ‘A Minha Casinha’.
A carga toda será posta nos contentores na próxima sexta-feira, 29 de junho, noite encabeçada pelos The Killers. No final, os Chemical Brothers darão forma ao lema de Ivete Sangalo – que só entrará em cena: ‘tire o pé do chão’. E a Bela Vista entrará em órbita. Quatro dias e quatro noites para contar o tempo até 2020.