Helen McEntee está completamente convencida que a saída do Reino Unido da União Europeia (UE) não trará reflexos positivos para ninguém, antes pelo contrário. «Vamos ser claros, o Brexit será mau para todos, um bom Brexit não existe», disse ao SOL a jovem política irlandesa, ministra dos Assuntos Europeus da Irlanda, que esta semana passou por Lisboa, numa visita oficial de 24 horas.
«O Reino Unido e a UE irão ficar pior em resultado do Brexit. É por isso que estamos a implementar planos para assegurar que o impacto do Brexit na Irlanda venha a ser o menor possível», explicou a ministra. Os planos, entre outras coisas, incluem um programa de empréstimos para pequenas e médias empresas no valor de 300 milhões de euros e um programa específico para o setor agroalimentar de 25 milhões de euros.
Helen McEntee veio a Portugal para um encontro com a sua homóloga, a secretária de Estado dos Assuntos Europeus, Ana Paula Zacarias, que incluiu ainda uma passagem pela comissão de Assuntos Europeus do Parlamento, uma palestra no Instituto Diplomático do Ministério dos Negócios Estrangeiros sobre o futuro da Europa e uma visita ao Ireland Portugal Business Network.
A ministra irlandesa garantiu que o seu país continua a defender que o acordo de saída do Reino Unido da UE não pode incluir uma fronteira real com a Irlanda do Norte, tal como ficou assegurado na proposta de acordo de saída assinado entre Londres e Bruxelas. O acordo «compromete-se de forma muito clara a que não haja uma fronteira real na ilha da Irlanda e nenhuns controlos ou verificações alfandegários com ela relacionados», referiu. «Como tal, esperamos manter uma relação próxima com a Irlanda do Norte baseada no Acordo de Sexta-Feira Santa», acrescentou. Sobretudo, disse ainda, «nas áreas de cooperação Norte-Sul e na economia de toda a ilha».
Aos que poderão pensar que o Brexit coloca uma pressão muito forte no acordo de paz assinado em Belfast a 10 de abril de 1998 [e referendado a 22 de maio, fez ontem 20 anos], e que colocou um ponto final no conflito entre católicos e protestantes na Irlanda do Norte, Helen McEntee contrapõe o compromisso reiterado por todas as partes em que o acordo continue a vigorar como até aqui e a contribuir para a pacificação na ilha.
«A UE, a Irlanda e o Reino Unido continuam totalmente empenhados no apoio ao Acordo de Sexta-Feira Santa em todas as suas partes. O compromisso faz parte do acordo conjunto do passado mês de dezembro e a Irlanda espera que seja completamente integrado como parte do acordo de retirada» do Reino Unido da UE, acrescentou a ministra. Isto mesmo tendo em conta que a própria ministra reconheceu na semana passada que a UE desempenhou um papel fundamental na consolidação do processo de paz norte-irlandês e, como tal, o futuro pós-Brexit seja uma incógnita.
De qualquer maneira, Helen McEntee também sublinhou as «excelentes relações bilaterais com o Reino Unido» e os encontros regulares entre os dois governos e deputados dos dois países. «No entanto, em relação às negociações do Brexit, a Irlanda está com a UE e trabalhamos com Michel Barnier e a equipa da UE», disse a ministra.
O que não impede Dublin de procurar dentro da UEacertar posições em relação ao futuro. McEntee acompanhou recentemente o primeiro-ministro Leo Varadkar na visita a Espanha, para o encontro com o novo chefe do Governo espanhol. «A Espanha permanece decididamente ao lado da Irlanda no que diz respeito às negociações do Brexit», explicou. Até porque, como a própria referiu, o Governo irlandês está «a planear todos os cenários que possam derivar do Brexit».
«Abordagem pró-ativa» no tema das migrações
A presença da ministra em Portugal também se enquadra na perspetiva de reforçar as posições conjuntas face ao futuro próximo da UE. Brexit, Migrações, o Quadro Financeiro Plurianual e até o alargamento da UE aos Balcãs foram os assuntos tratados durante a reunião com Ana Paula Zacarias, de acordo com a informação avançada pela própria ministra.
«A Irlanda assumiu uma abordagem pró-ativa em relação à questão da migração e dos refugiados», explicou a ministra sobre a questão premente dos refugiados e da migração na UE, causadora de crises políticas em alguns Estados-membros, incluindo a Alemanha – há uma mini-cimeira convocada pelo presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, para este domingo, a que os países do Grupo de Visegrado (Hungria, Polónia, República Checa e Eslováquia) decidiram não comparecer.
«Voluntariámo-nos para fazer parte da operação Sophia, em que os nossos navios estão a trabalhar para salvar migrantes. Também nos comprometemos a receber quatro mil migrantes, até esta altura recebemos mais de 1800», explicou a ministra.
Além disso, Helen McEntee garante que «a Irlanda atribuiu uma grande quantidade do dinheiro para o programa de ajuda externa para a Síria, de modo a tentar contribuir para levar ajuda e estabilidade à região».
Otimista em relação ao futuro da Europa
A visita da ministra dos Assuntos Europeus irlandesa a Portugal ficou marcada pelo otimismo apesar da pressão e da crise na UE. «Sou extremamente positiva em relação ao futuro da Europa. Recentemente completámos uma série de Diálogos Cidadãos regionais na Irlanda. Centenas de pessoas de todo o país envolveram-se num debate público sobre o futuro da União Europeia», explicou. «No final deste processo foi feita uma sondagem da opinião pública em relação à atitude das pessoas em relação à UE» e o resultado não podia ser mais esclarecedor: «92% do povo irlandês apoia a ligação à UE e entre os 18-25 anos o apoio sobe para 97%».