Pilar del Rio (presidente da Fundação José Saramago) e Manuel Alberto Valente (editor responsável pelos obras de José Saramago desde 2014) anunciaram, esta terça-feira, a publicação dos últimos diários do autor, que foi prémio Nobel há 20 anos. A existência deste último volume já era conhecida, mas os manuscritos só foi descoberto em fevereiro deste ano.
Os dois últimos diários (que agora irão dar origem ao 'Último Caderno de Lanzarote') começaram a ser escritos em 1998, ano em que ganhou o Nobel. Mas este acabou por ser um ano atarefado para o autor português e os manuscritos caíram no esquecimento. O sexto diário foi escrito em 1998 e o sétimo conta com apenas duas entradas em 1999.
Em 2001, um artigo do jornal A Capital revelou que o autor retomaria a escrita destes cadernos “no início de 2002”, mas tal acabou por não acontecer.
Segundo Pilar, a descoberta desta última obra foi bastante surpreendente: "Estava uma pasta no seu computador que nunca tinha sido aberta. Quando[o poeta, ensaísta e filólogo] Fernando Gomez Aguillera precisou de confirmar um dado no livro que está a preparar sobre as conferências de Saramago, decidiu consultar a pasta e, ao abrir o arquivo, deparou-se com os originais dos Cadernos 1 a 5 mas também com mais dois: o 6 e o 7”.
Pilar comunicou de imediato a descoberta aos editores e chegaram à conclusão que o melhor mês para publicarem a última obra de Saramago seria outubro, aniversário dos 20 anos do anúncio de que Saramago seria Nobel da Literatura.
Pilar del Rio adiantou que o livro estará “muito relacionado com a América continental, com o Brasil e o México, sobretudo, com a Argentina, o Uruguai, a Colômbia".
O editor Miguel Valente acrescentou: "Lamento que algumas entidades portuguesas, ou Portugal no seu conjunto, não tenham tomado consciência da importância do que isto significa, sobretudo num ano em que não vai haver Prémio Nobel”. Miguel Valente disse não ter conhecimento de celebrações relativas à nomeação de Saramago para o Prémio Nobel: “é como se fosse atribuído todos os anos em Portugal (…) não houve na Feira do Livro de Lisboa nenhuma referência especial aos 20 anos do Nobel".
José Saramago venceu o Nobel com a obra ‘O Evangelho Segundo Jesus Cristo’, que lançou em 1991; em 1992, Sousa Lara – na altura subsecretário de Estado da Cultura – impediu a candidatura da obra ao Prémio Literário Europeu por achar que esta não representava Portugal, o que levou Saramago a abandonar o país, acusando o primeiro-ministro desse Governo, Cavaco Silva, de censura.