Uns Arctic Monkeys melhores do que há quatro anos e uns Nine Inch Nails mais confortáveis à medida que a luz caía chamaram a atenção na primeira noite de NOS Alive.
Ainda sob a luz poente, os Nine Inch Nails descarregam "March of the Pigs" com o peso todo suportado pela aparelhagem. No recinto, um grupo de raparigas ainda sem idade para conduzir não sabe como há-de reagir: dançar? gritar? E agora?
Ao perfil revivalista do cartaz – até os Arctic Monkeys estão para cima da dezena de anos -, responde um misto de pais e filhos. Por isso, não surpreende que o novel Khalid esgote o Palco Sagres e toda a gente saiba de cor o single radiofónico "Young, Dumb & Broke".
É certo que são 55 mil pessoas a acotovelar-se, entre concertos, Instavídeos, selfies, comidas, bebidas, palcos de seriedade ou comédia. E que o festival foi desenhado para responder a uma afluência massiva, oferecendo propostas diversificadas.
E também que os Arctic Monkeys vencem por maioria absoluta mas há uma discrepância entre o rejuvenescimento natural do público e o tipo de bandas. Um cartaz de rock obriga a rebobinar a cassete na era do streaming.
Ironias. Há quem elogie o amadurecimento dos Arctic Monkeys mas, à parte o single "Four Out Of Five" na abertura do concerto, são as canções com borbulhas que deixam a plateia aos pulos.
"Esta é de 2004", recorda Alex Turner, sobre o single triunfal de início de carreira "I Bet You Look Good On The Dancefloor". Sempre que os Arctic Monkeys carregam no acelerador (leia-se distorção), os litros de cervejam exponenciam-se.
Quando baixam o ritmo para os slows de "Tranquility Base Hotel & Casino", são literais. É um ambiente de casino, entre os Walker Brothers e Serge Gainsbourg, que se gera. A antítese de um grande festival e dos rugidos de "R U Mine?", "Brianstorm" e "Teddy Picker" ou do apelo sexual de "Do I Wanna Know?".
Que se danem os europeus, os Arctic Monkeys americanos são infinitamente mais interessantes que os ingleses. Por enquanto, ainda não se nota o desconforto mas é óbvio que há uma pele a cair e outra a nascer.
Que não é o caso dos Snow Patrol – um projeto falhado de Coldplay – nem dos Nine Inch Nails. Trent Reznor e respetiva tropa escolhem um alinhamento de suor e raiva.
E quando se fala da economia de rock nos festivais, aqui está a excepção a confirmar a regra. O festival está lotado, a cerveja vende-se e o trânsito flui. Se essa é a banda sonora certa para o NOS Alive 2018 é uma questão em aberto.