Previsão informada por bússola

Fórum Bússola – PwC Arena Futuro Azul analisou futuro dos oceanos com base em compilação de informação previsional. Aposta na economia do mar decisiva para crescimento do país

Os líderes da economia do mar  reuniram-se ontem em Lisboa para o Fórum Bússola – PwC Arena Futuro Azul. O objetivo deste projeto é a antevisão das tendências  da Economia Azul no futuro próximo.

Há mais de dez anos, a PWC começou um projeto de pensamento estratégico sobre a economia do mar através da partilha de informação e organização de fóruns para promover o conhecimento, a cooperação e o mérito. 

Com base na recolha de dados reais sobre o que tem acontecido na economia do mar no passado recente é possível projetar o futuro. Essa projeção é ainda melhorada juntando orçamentos e previsões que neste momento alguns líderes do setor têm para o fim do ano de 2018 ou 2019. 

Por exemplo, já se conhecem quais as encomendas de 2019 de cruzeiros e também já se sabe pelo sistema de quotas quanto é é que se pode pescar no próximo ano. «Poderá haver afinações mas no geral pode-se estimar com alguma qualidade», resume ao SOL Miguel Marques. Juntar a capacidade de prever usando o passado à informação sobre o futuro já conhecido reforça a capacidade de fazer estimativas. 

«Com esses três grandes elementos: informação do passado, orçamentos do futuro e as reuniões e visitas aos locais conseguimos fazer a previsão do que pode acontecer», revela o Economy of the Sea Executive Partner da PwC Portugal. «Mais do que 12 ou 24 meses, num mundo tão instável, é difícil», admite, explicando que neste momento  já existe informação dispersa que permite, com alguma qualidade antever o que pode acontecer no mar em um ano ou dois anos. «As previsões são importantes porque nos preparam para o que pode acontecer», garante Miguel Marques. 

Campos de análise

No Bússola – PwC Arena Futuro Azul os especialistas dos oceanos expressam as suas visões sobre o que esperar em 2019, 2020 no que respeita às atividades do mar com base numa organização em cinco grandes campos de análise. O primeiro é o Governo dos Oceanos e Abordagem Integrada, onde se encaixa a política ou a segurança. Depois o campo económico-financeiro, onde entram as indústrias do mar. Há ainda o campo do ambiente, o do conhecimento e inovação e ainda ao campo das pessoas, cultura e identidade. «Queremos através desta arena tentar agrupar, analisar a informação sobre o futuro próximo. E depois oferecê-la no nosso site para quem achar que é relevante para as suas atividades poder usar», explica Miguel Marques, salientando que este projeto está dentro do trabalho de responsabilidade social e liderança estratégica da PWC.

Com este fórum, o objetivo da consultora é mostrar, provar e contribuir naquilo que sabe fazer: números. «Quando começámos a trabalhar nesta área o discurso era extremamente qualitativo, cheio de boas intenções, mas sem suporte numérico» conta o partner da consultora.  «Se há alguma coisa em que Portugal lidera no mar começa a ser as estatísticas quantitativas. Já temos metodologias e números que estamos a exportar para o mundo», acrescenta, lembrando que o propósito estudar o mundo a partir de Portugal.   De acordo com o responsável, neste assunto, «Portugal pode ter aquilo que tanto ambiciona que é centros de decisão globais. Mas tem de fazer por isso».  

Recurso mais acessível

Miguel Marques lembra que a nível global a economia do mar irá crescer devido às mega tendências (ver caixa ao lado)  e que este é um recurso cada vez mais acessível. Mas para que seja sustentável é preciso quantificar e perceber e é nessa área que se insere a PWC, que fornece a comunidade com informação de apoio à comunidade. «E temos a certeza que este é um ponto de vista numérico para se juntar a dezenas de outros pontos de vista. Somos uma peça no puzzle», diz. 

De acordo com o Economy of the Sea Executive Partner da PwC, «em Portugal poderíamos crescer muito mais» e é possível «em dez anos duplicar a economia do mar». E aponta que já há números crescentes no setor: os cruzeiros, as conservas a exportar, o registo internacional de navios, os desportos náuticos, as marítimo-turísticas, a produção de documentos científicos.

Mas esse crescimento depende de três fatores:  investimento e financiamento, desburocratizar e dignificar os profissionais do mar. «Só o financiamento é mais difícil», diz, apesar de progressos recentes na cooperação do setor financeiro com o mercado em termos operacionais. «A desburocratização e a dignificação depende de nós» e é mais difícil de concretizar em parte por falta de conhecimento e por falta de estabilidade de lideranças. «No mar o curto prazo são cinco anos. Em terra isso é média e longo prazo». Outro desafio considerado importante é o da necessidade de renovação das frotas da marinha de guerra e de comércio, assim como a da pesca.

«Não está a crescer muito o saber prático», lamenta Miguel Marques. «Já está a reduzir muito o número de marinheiros, de pescadores, a idade média está a aumentar, as idades médias das embarcações também estão a aumentar, o que é motivo de grande preocupação», aponta.  Em resumo, Miguel Marques lembra que «estes dados são importantes porque nos permitem ter estas radiografias que permitam tomar decisões».  

Em entrevista ao SOL, o presidente da CIP lembrava a necessidade de colocar o mar no radar dos decisores para que tomem medidas concretas para que este recurso seja devidamente aproveitado. «Olhar o mar no seu elevado potencial económico, é um tema que deve estar permanentemente em cima da mesa porque o elevado potencial económico que o mar encerra é um ativo que o país não pode dispensar nesta procura de crescimento económico sustentável», dizia António Saraiva.