Olinda, no nordeste brasileiro, tem severas contradições. "Tem património religioso", uma das pontes com Portugal, mas nem uma sala de cinema.
A paulista Lu Araújo viu na cidade pernambucana o local certo para "criar novas experiências" no compromisso entre património histórico "e artistas menos divulgados" pela comunicação social. E aí nasceu o Mimo, um festival periférico, de motivos culturais, com nomes "entre o popular e o erudito" como Hermeto Pascoal e Egberto Gismonti.
No primeiro ano, uma mão cheia de concertos bastou. O festival foi muito bem recebido, por exemplo entre os religiosos, recorda a organizadora, e cresceu.
"De repente, já tínhamos duas plateias. A que lotava a igreja e a que via [os concertos] fora numa tela", descreve. E o Mimo passou a ser "uma experiência de ocupação territorial".
Em 2012, o festival mudou-se para Paraty no Rio de Janeiro. E fez nascer um "processo de internacionalização" alimentado por um mero "desejo pessoal".
De novo, Lu Araújo queria relacionar "arquitetura, memória e música que não circula tão facilmente" para criar novos públicos. "Esse lugar era Portugal", decidiu. E porquê? Porque "o grande activo de Portugal é o património".
O Porto era o destino mas um amigo levou-a a Amarante. "Uma cidade bonita com o tamanho ideal" com património, medieval e barroco, um museu e uma gastronomia que não pode ser desprezada.
Foi "bem recebida pela Câmara", apaixonou-se e o Mimo ganhou uma casa. 2018 é o terceiro ano do festival em Amarante e os números explicam o resto.
"Passámos de 24 para 60 mil pessoas sem ocorrências", regista. "Já temos um espaço no calendário de festivais em Portugal. Os hotéis e o campismo estão lotados. Está a movimentar uma região, além de valorizar a cidade, traz retorno económico expressivo", congratula-se Lu Araújo.
Um festival de entrada livre que vive de "apoios e patrocinadores". "É uma troca", explica.
"O Mimo não é um milagre. Alguém tem de pagar a conta", assume
Para Lu Araújo, o mais importante é, no entanto, "a formação de públicos". O Mimo começa hoje e leva a Amarante nomes como os Dead Combo, Dona Onete e Marta Pereira da Costa (hoje); Otto e Rui Veloso (amanhã); Bruno Pernadas, Goran Bregovic e Hudson, o supergrupo que une a bateria de Jack DeJohnette, o guitarrista John Scofield, o teclista John Medeski e o baixista Scott Colley.
Além do Parque Ribeirinho onde acontecem os concertos maiores, a música, os workshops, as conversas, o cinema, acontecem no Museu Amadeo de Souza Cardoso, no Convento de São Gonçalo e no Centro Cultural. Amadeo de Souza Cardoso é homenageado na exposição "Os Modernistas. Amigos e Contemporâneos de Amadeo de Souza-Cardoso".