Cerca de 500 escutas telefónicas estão a ser transcritas pelos investigadores, no âmbito da operação Tutti Frutti. As autoridades acreditam que as conversas gravadas são cruciais para as ajudar a verificar os indícios de crime, escreve a revista Sábado. Este processo de transcrição ainda não tinha sido iniciado porque, na altura em que as buscas e apreensões foram feitas, não havia meios suficientes para começar a tratar das gravações.
As escutas, que estiveram a ser realizadas durante vários meses, têm quatro alvos centrais. Nas chamadas e mensagens são feitas referências a lojas maçónicas e a negócios feitos com dinheiro conseguido de forma ilícita – o mesmo que terá sido usado para pagar quotas a eleitores com o objetivo de estes votarem em Pedro Santana Lopes nas últimas eleições diretas para a presidência do PSD.
Agora, a Unidade Nacional de Combate à Corrupção (UNCC) da Polícia Judiciária (PJ) está a analisar as escutas para tentar elaborar uma estratégia que comprove os detalhes do alegado esquema de troca de favores entre ex-políticos do PSD e do PS.
No final do mês de junho, no âmbito desta investigação, foram realizadas buscas em mais de 20 câmaras municipais e juntas de freguesia, incluindo a sede distrital do PSD e do PS. Durante as buscas, a PJ apreendeu informação relativa à identificação dos militantes do PSD e ainda todos os registos de quotas e movimentos financeiros.
Entre os visados pela operação está Sérgio Azevedo – deputado do PSD -, Carlos Eduardo Reis – conselheiro nacional do PSD – e João Montenegro – diretor da campanha de Santana Lopes nas eleições diretas do partido. Pedro Rodrigues – ex-líder da JSD e apoiante de Rio nas eleições – também é um dos visados. Na altura, os suspeitos não foram constituídos arguidos porque os investigadores ainda não tinham analisado as escutas.
Rodrigues foi líder da JSD quando Montenegro era secretário-geral e este último coordenou toda a equipa de Santana durante as diretas – onde Reis também era figura presente. Sérgio Azevedo contribuiu para o programa de campanha, nas áreas da Defesa e Segurança, sendo conselheiro nacional do partido eleito na lista de Carlos Eduardo Reis.
Embora só recentemente a ligação de todos esteja debaixo dos holofotes – devido à investigação -, fontes conhecedoras contam ao SOL que os quatro sociais-democratas se conhecem há mais de uma década.
Acordo entre Partidos
O caso é complexo e em várias frentes. Como o SOL noticiou no final de junho, terá também sido montado um esquema entre o PS e o PSD antes das eleições autárquicas de 2017, com uma reunião entre o Sérgio Azevedo e Fernando Medina – presidente da Câmara Municipal de Lisboa. Luís Newton – presidente da junta de Freguesia da Estrela – terá tido conhecimento da mesma e inclusivamente participado na escolha dos candidatos.
No âmbito deste inquérito, o Ministério Público acredita que os dois partidos terão acordado em escolher candidatos que não iriam alterar o panorama atual nas freguesias: nas juntas do PS, o PSD propunha um candidato mais fraco e nas do PSD, o PS escolhia nomes desconhecidos.
Depois o objetivo passava por nomear assessores de ambos os partidos para a Câmara e Assembleia Municipal.