O comportamento do presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, de 63 anos, foi, mais uma vez, alvo de polémica por ele ter sido visto a cambalear na cerimónia de encerramento da cimeira da NATO, em Bruxelas. E as comparações com o estado cambaleante da União Europeia não se fizeram esperar. Se, por vezes, Juncker não se consegue entender com os líderes europeus, nesta situação não faltaram mãozinhas para o ajudar a manter-se de pé. Uma mão nas costas, um bracinho dado, cuidados com os degraus.
Em poucas horas, vieram as críticas e acusações de que estava bêbado, obrigando a sua equipa a vir a terreiro esclarecer que o seu comportamento se devia a um ataque de ciática. As dores, esclareceu o porta-voz da Comissão Europeia, Margaritis Schinas, desapareceram mais tarde, com o presidente a «participar normalmente no jantar» de encerramento da cerimónia, ainda que tenha entrado de cadeira de rodas. «O seu programa está cheio», acrescentou Schinas, referindo que «não foi de forma alguma alterado».
Os esclarecimentos não foram, ainda assim, suficientes para aplacarem as críticas. O líder do partido de extrema-direita austríaco FPO, Harald Vilimsky, não perdeu a oportunidade de criticar a União Europeia, acusando Juncker de ter transformado o projeto europeu num «motivo de comédia».
Esta foi uma das críticas que obrigou o próprio Juncker a debruçar-se, furioso, sobre o assunto quando interpelado por um jornalista. «Estava com particulares dores de ciática, acompanhadas de uma cãibra». E, depois, passou ao ataque para exigir respeito: «Estou muito impressionado com o interesse de alguns sobre essas questões – que não são sequer marginais – e peço respeito».
Não é a primeira vez que Juncker é forçado a vir a público esclarecer o porquê de, em certos momentos, ter um comportamento fora do normal. Em 2016, deu uma entrevista ao comentador político Jean Quatremer, do jornal francês Libération, onde afirmou que a ciática era uma consequência «de um grave acidente de viação» – em 1989 passou três semanas em coma e seis meses numa cadeira de rodas. Para o presidente da Comissão, esses «rumores», espalhados pelos seus opositores, têm apenas um objetivo: denegrir a sua imagem. O entrevistador, por seu lado, contestou a versão de Juncker, escrevendo que «durante o nosso mais recente almoço ele bebeu quatro copos de champanhe com apenas uma salada». «Acha mesmo que ainda me manteria no cargo se estivesse a beber conhaque ao pequeno-almoço?», perguntou Juncker na entrevista. Noutra ocasião, o presidente chegou mesmo a dizer que «preferia estar bêbado» a ter ciática.
Sinal do estado cambaleante da Europa?
Os esclarecimentos parecem ter sido infrutíferos para aplacar as redes sociais, que, mais uma vez, se mostraram impiedosas, com as comparações entre o estado cambaleante de Juncker e da União Europeia a tornarem-se virais. Estará Juncker a vacilar nos passos à semelhança da UE? Se sim, não estava sozinho. Com ele estavam os chefes de Estado e de governo de 29 Estados-membros da NATO. Nos vídeos divulgados, vê-se que subir ao palanque da cerimónia da NATO foi um desafio difícil para Juncker, com cada degrau a ser um obstáculo hercúleo para o presidente da Comissão Europeia. Não fossem os braços estendidos por um segurança e uma assessora e tinham-se transformado em intransponíveis. Momentos antes da bandeira da NATO ser içada, Juncker, de pernas abertas e tronco para a frente, fazendo um esforço para manter o equilíbrio, parece sempre à beira do abismo. O presidente francês, Emmanuel Macron, sorridente e cheio de delicadezas, como lhe é habitual, aproximou-se de Juncker para o cumprimentar, deixando-o usá-lo como apoio pouco depois de quase o fazer cair com um beijo. Ou não quisesse Macron reformar a UE e precisasse do apoio de Juncker. Quando a bandeira finalmente começou a ser içada, Juncker contou com a ajuda de Petro Poroshenko, presidente da Ucrânia, que lá manteve o presidente da Comissão firme e hirto durante a cerimónia.
Finda a atividade protocolar, Juncker começou a descer as escadas, com António Costa, europeísta convicto, a vir em seu auxílio, cheio de sorrisos, para dar uma mãozinha à Europa que Juncker aceitou de bom grado. Depois da solidariedade inicial, Poroshenko chegou até a dar um pequeno empurrão a Juncker, que, por sorte, caiu nos braços de outro líder europeu. Poucos passos mais à frente, o presidente da Comissão voltou-se a desequilibrar, mas Poroshenko lá emendou a mão e susteve uma possível queda de Juncker, não fosse perder o apoio da Comissão contra os independentismos apoiados pela Rússia.
Tsipras, esse, passou de largo, caminhando rapidamente, olhando para o horizonte como se nem reparasse – será que os tempos dos beijos na face e sorrisos para Juncker são só passado? E a primeira-ministra britânica, Theresa May, passou pelo presidente da Comissão a rir-se. Donald Trump, acompanhado de Melania, passou como se não fosse nada com ele, demonstrando a mesma falta de solidariedade para com o presidente da Comissão Europeia que tem demonstrado para com a Europa, por onde passou no meio de uma guerra comercial e a exigir mais dinheiro para a Defesa. Sintoma do estado das relações transatlânticas?
Questionados pelos jornalistas sobre a razão para Juncker aparecer com tamanha falta de equilíbrio, alguns líderes europeus apressaram-se a explicar: «Ele não tem nenhuma doença grave. Pelo que sei sofre de dores nas costas desde há algum tempo. E, de vez enquanto, tem crises de dores», afirmou Mark Rutte, primeiro-ministro holandês. «Ciática. Só a ciática», complementou António Costa.
A solidariedade do primeiro-ministro português não passou despercebida a Juncker, com o porta-voz da Comissão Europeia, Margaritis Schinas, a aproveitar a oportunidade para agradecer publicamente ao líder do Governo português pelo auxílio nos desequilíbrios de Juncker.