Espanha deu uma abada a Portugal e não foi no futebol ou no hóquei, foi mesmo na política.
Mariano Rajoy foi primeiro-ministro de Espanha entre 2011 e 2018. Só conseguiu ser eleito à terceira vez, mas fê-lo com maioria absoluta (a segunda maior da democracia em número de deputados).
Enfrentou todas as crises: financeira – com resgate a bancos -, independentista, mas foram os escândalos de corrupção que mais mossa lhe fizeram.
A sentença do caso Gürtel, publicada na última semana de maio, foi a gota de água que fez transbordar o copo.
Rajoy, como sempre, foi defensivo, anunciou o recurso judicial, e recusou demitir-se. Garantiu que iria ficar no poder até ao final da legislatura, em 2020.
Acusou o líder do PSOE, Pedro Sánchez, de querer chegar ao poder a qualquer custo, vendendo a alma ao diabo – no caso, aos independentistas catalães -, para conseguir aprovar a sua moção de censura. Aprovada a 1 de junho de 2018, Pedro Sánchez tomou posse no dia seguinte, a 2 de junho, como primeiro-ministro.
Rajoy ainda ensaiou: «Quem tem mais credibilidade? Um dirigente político que tem 84 deputados ou um que tem 134?», agarrando-se aos argumentos da estabilidade, autoridade e legitimidade, mas sem sucesso. Afastado do Governo, o que aconteceu a Mariano Rajoy na liderança do seu partido, o PP? Demitiu-se na mesma semana.
E o PP, em pouco mais de um mês, discutiu a liderança, fez umas primárias, apurou dois candidatos, realizou um congresso e elegeu o seu presidente (a 22 de julho). É aquilo que em linguagem popular se diz dos chouriços: ‘atar e pôr ao fumeiro’.
Gostava de ressaltar aqui quatro aspetos: a demissão, a qualidade da nova liderança, a renovação e o processo interno.
Quanto à demissão, a coligação negativa que derrubou Rajoy é espúria e foi feita à custa da unidade do Estado espanhol. O ex-primeiro-ministro tinha todos os motivos para se lamuriar, para bradar aos céus, para arrastar penas e lamentos durante meses a fio. Resolveu demitir-se e deixar o caminho livre ao partido.
O segundo tem a ver com a qualidade do sucessor. Depois de catorze anos de liderança do PP, é quase certo que o sucessor é muito pior do que Rajoy, mas a questão não é essa: os ciclos políticos são muito curtos e, após lideranças longas, os eleitores querem novidade.
Em terceiro lugar, Rajoy e Aznar deixaram que fossem as novas gerações a disputar o poder, permitindo a efetiva renovação do partido.
Em quarto, o processo interno de escolha da liderança foi muito célere: longos processos de primárias e diretas cavam trincheiras e são o prenúncio de guerras civis partidárias.
Por tudo isto – e comparando com o recente caso português no PSD -, só posso dizer que Espanha goleou quatro a zero.
sofiarocha@sol.pt