Os tripulantes de cabina da Ryanair cumpriram, esta semana, dois dias de greve, o que levou ao cancelamento de dezenas de voos. Ainda que não existam, para já, dados concretos quanto ao número de cancelamentos e passageiros afetados, a verdade é que tudo aponta para que, só no primeiro dia de greve, a paralisação em quatro países europeus tenha obrigado a cancelar mais de 230 voos.
Além dos cancelamentos, o Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC) explicou que a empresa esteve ainda a braços com a atuação de inspetores da Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT). «A ACT foi verificar se os tripulantes que estavam dentro de dois aviões da Ryanair eram tripulantes das bases portuguesas ou se eram substitutos de grevistas». Este ponto ganha especial importância depois de, em abril, a companhia aérea ter recorrido a trabalhadores de outras bases para minimizar o impacto da paralisação dos tripulantes das bases portuguesas.
Já nesta altura, a empresa teve de lidar com a forte adesão dos trabalhadores e ainda com as consequências de ter inspetores no terreno. De acordo com o sindicato, alguns tripulantes receberam indicações para não saírem sequer dos aviões. Foi então que surgiu o ultimato: ou a companhia aplicava a lei nacional aos trabalhadores das bases em Portugal ou a paralisação se generalizava. Foi o que acabou por acontecer. A greve foi marcada em Portugal, Espanha, Itália e Bélgica.
Partidos pedem intervenção
O PS depressa reagiu à situação. Além da manifestação de solidariedade com os motivos da greve, o PS pediu ainda a intervenção do governo no caso de a ACT encontrar situações claras de violação dos direitos laborais. Com esta greve, os trabalhadores pretendem conseguir que seja finalmente aplicada a legislação portuguesa, nomeadamente em termos de gozo da licença de parentalidade e garantia de ordenado mínimo, e que retire processos disciplinares por motivo de baixas médicas. No mesmo dia em que arrancou a greve – quarta-feira -, a companhia aérea anunciou a redução de 20% da sua frota em Dublin, Irlanda, ameaçando o emprego de 300 trabalhadores, a quem será oferecida a possibilidade de se mudarem para a Polónia ou para outras bases, e relacionou a medida com a queda das reservas e a greve dos pilotos no país. Falamos de 100 pilotos e 200 elementos do pessoal de cabina.
A companhia de preços de baixo custo indica que a medida foi já comunicada à bolsa de Londres. O grupo acrescenta que vai dar prioridade às atividades na Polónia e em Dublin. Os pilotos da empresa na Irlanda, cerca de uma centena, já reagiram e anunciaram uma nova greve de 24 horas no próximo dia 3 de agosto, naquela que é a quarta paralisação desde 12 de julho no país.
De acordo com a AirHelp, mais de 120 mil passageiros foram afetados pelas greves da Ryanair em julho, em vários países europeus. Estes podem ter direito a um valor global de 33 milhões de euros em compensações.
Descontos na greve
Como objetivo de minimizar o impacto da greve, a Ryanair usou as redes sociais para fazer um pedido de desculpas público aos clientes afetados nos diferentes países. No entanto, a insatisfação continuou a fazer parte das questões com que a companhia tem de lidar. Aliás, há quem garanta que a imagem da companhia está longe de ser o que era e que há cada vez mais passageiros a questionar a confiança que podem ter na marca. Prova disso é o facto de a transportadora de baixo custo ter posto à venda viagens com 20% de desconto, sem que isso tenha impressionado os clientes. A maioria dos comentários feitos à oferta da Ryanair no Twitter foram: «De que serve 20% de desconto se depois cancelam voos?».
Passado polémico
Em setembro do ano passado, a questão da legislação aplicada aos contratos de vários trabalhadores foi levada ao tribunal europeu. A Ryanair queria que fosse aplicada a lei irlandesa na disputa, mas perdeu a batalha. Em questão estava o facto de a companhia aérea de baixo custo querer resolver na Irlanda problemas com trabalhadores no aeroporto belga.
A ideia da tripulação de cabina era que o caso fosse julgado num tribunal belga, por achar que a lei seria mais favorável, mas a companhia entendeu que o melhor seria que o caso fosse julgado na Irlanda.
Os trabalhadores em questão tinham contratos de trabalho realizados de acordo com as leis irlandesas, já que eram feitos como se lá trabalhassem. No entanto, a base era o Aeroporto Charleroi, na Bélgica.